Reflexões de Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Por Dom Alberto Taveira Corrêa
BELéM DO PARá, 15 de Agosto de 2014 (Zenit.org) -
A Virgem Maria, Nossa Senhora, chegou à
plena realização de todas as potencialidades humanas. Pelos merecimentos de seu
Filho amado, foi preservada da mancha do pecado original, viveu nesta terra
conduzida pelo chamado de Deus, para depois, ser elevada ao Céu, como professa a
fé da Igreja. Na Assunção de Maria, todas as realidades desta terra são
assumidas e acolhidas para adquirirem valor de eternidade. Sua presença e seu
exemplo resplandecem como sinal luminoso para todos, podendo nela encontrar
conforto e força todas as vocações e estados de vida. Olhar para Nossa Senhora
estimula a caminhar com segurança, certos de que fomos feitos para o alto e para
a felicidade.
No mês das vocações, voltamos o olhar para a aventura humana e religiosa
vivida por Maria. Nela vemos realizada a vocação fundamental de todos os seres
humanos, pois, em Cristo, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para
sermos santos e imaculados diante dele, no amor (Cf. Ef 1, 4).. Toda a vida de
Nossa Senhora se orienta para o seu Filho, Jesus, Verbo de Deus feito carne. Ela
se esvazia de si mesma e de seus próprios projetos, para abraçar o caminho da
santidade, tornando-se ícone do que todos somos chamados a viver, pois
convidados a percorrer a estrada da resposta fiel a Deus.
O Apóstolo São Paulo, convicto da escolha feita, apresenta-se diante de suas
comunidades na inteireza de sua entrega a Deus. Pode, então, abraçar como
próprias as atitudes do mesmo Senhor Jesus Cristo: "Pela fidelidade de Deus, eu
vos asseguro: a nossa palavra junto de vós não é 'sim e não'. Pois o Filho de
Deus, proclamado entre vós por mim, por Silvano e Timóteo, nunca foi 'sim e
não', mas somente 'sim'. Ao contrário, é nele que todas as promessas de Deus têm
o 'sim' garantido. Por isso, também, é por ele que dizemos 'amém' a Deus, para
sua glória. É Deus que nos confirma, a nós e a vós, em nossa adesão a Cristo,
como também é Deus que nos ungiu. Foi ele que imprimiu em nós a sua marca e nos
deu como garantia o Espírito derramado em nossos corações" (2 Cor 2, 18-22). É
com igual certeza que ousamos olhar para Maria, Nossa Senhora, a primeira na
resposta ao plano de Deus. Que o seu sim se expresse também em nossa vida.
Maria deu o seu sim à vida. Sua existência, desde os primeiros passos e
olhares, era voltada para a Palavra do Senhor e para uma vida humana saudável,
na pobreza e no escondimento de Nazaré. Foi na escuta da mesma Palavra que se
entregou, na oblação total de própria liberdade, tornando-se generosamente
escrava da Palavra. Seu sim radical, dado a Deus e a seu plano de salvação,
mudou a história da humanidade. "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim
segundo a tua palavra" (Lc 1, 38). Responder com generosidade a Deus é o ato
mais digno da vida humana. Todas as vezes que alguém dá sua resposta a Deus,
atualizando a graça do Batismo, o Espírito Santo vem sobre a pessoa e realiza a
sua obra, edificando o bem! Dela queremos aprender a dizer sim!
Quando as incontáveis angústias de nosso tempo tantas vezes nos preocupam,
vale a pena tomar consciência de que a vida de Maria foi marcada pelas surpresas
do cotidiano e pela dor, visita inconfundível do Senhor. Para que se repita o
nosso sim diante das eventuais decepções experimentadas ou as dores e pecados
pessoais e sociais, a mulher do equilíbrio e da firmeza seja vista como sinal.
A Igreja identifica sete situações dolorosas, muito semelhantes àquelas vividas
por nós. Maria, elevada ao Céu em corpo e alma, levou as cicatrizes da dor, para
que ninguém desanime no caminho da perfeição a que somos chamados.
Uma espada a transpassar o coração, na profecia de Simeão (Cf. Lc 2, 21-40).
Se um anjo lhe anunciara sua vocação de mãe do Verbo de Deus feito carne, muito
cedo entendeu, para cedo amadurecer, o alcance de sua resposta a Deus. Não
voltou atrás e acolheu de pé, na obediência, o projeto de Deus em sua vida. De
fato, o Senhor não nos engana, prometendo apenas consolações, mas nos abre o
horizonte com realismo, para que todos aprendamos a viver.
Com José, Maria soube que seu filho poderia ser morto pelo ódio sanguinário
de Herodes (Cf. Mt 2, 13-18). Doeu-lhe o exílio, mas aprendeu e ensina a todas
as gerações de cristãos a coragem para manter a fé a qualquer custo. Não é
difícil identificar em nossos dias, no mesmo oriente médio, levas de cristãos em
fuga por serem cristãos, firmes diante da provação. O mundo parece o mesmo!
A Terceira espada transpassou o coração de Maria quando perdeu seu filho no
templo. Teve que compreender que o Jesus de seu coração é Filho do Pai do Céu e
tem uma missão que supera todos os laços e afetos humanos (Cf. Lc 2, 41-52). Em
sua dor se encontram as perdas humanas e a liberdade com que os pais e mães hão
de educar seus filhos, não para si, mas para Deus e para a vida, olhando para
frente!
No caminho do Calvário, a Maria discípula se encontra com seu Filho que
carrega a cruz. A multidão não entende a profundidade do olhar, santa
cumplicidade daquela Mãe que se fez companheira e colaboradora do Redentor. Ali
estava presente o silêncio e o assentimento corajoso de tantas pessoas que não
se negam a dar a sua colaboração na realização do plano de Deus.
Aos pés da Cruz, quando o Filho único a entrega como Mãe à humanidade
chagada, representada por João, Maria experimenta a desolação, dando sua
resposta e pronunciando o seu segundo e definitivo sim (Cf. Jo 19, 1-41). Está
de pé, mulher madura para o amor e o sofrimento! Testemunha a morte redentora de
seu Filho! Em sua coragem resplandece a disposição de todos os que estão prontos
a viver a palavra: "Completo, na minha carne, o que falta às tribulações de
Cristo em favor do seu Corpo que é a Igreja" (Cl 1, 24). O que falta é a
participação pessoal!
Aquela que recebera o anúncio de uma espada de dor, vê a lança do soldado
transpassar o lado de seu Filho exangue, para depois acolher nos braços e
conduzir à sepultura o seu corpo. Mais duas espadas, duas dores lancinantes,
para se completar o caminho da perfeição e da maturidade!
Maria do sim nos ajude a percorrer a estrada da maturidade humana e cristã.
Sua vida, assunta ao Céu, seja o sinal para nossa caminhada.
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