sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Para além do que se crê, o mais importante é amar.

 Uma reflexão sobre a Pastoral da Saúde e a visitação aos doentes





             Para a Igreja Católica o cuidado que se deve aos enfermos é muito significativo. Ela, agindo em nome de Cristo, está sempre atenta às realidades marcadas pela doença, pois são momentos especiais em que as pessoas necessitam ser resgatadas, muitas vezes para dentro de si mesmas e do coração de Deus.
 No Brasil, de um modo muito especial, temos o encontro e a ligação entre muitas crenças religiosas, fato que nos permite perceber os diferentes modos de relacionar a saúde - ou a falta dela - com a fé.  Dentro desse contexto, muitos desafios se defrontam com a ação pastoral na área da saúde, porque esta requer um jeito de agir voltado especificamente à pessoa.
Sabemos que no decorrer da história da humanidade muitas coisas foram mudando: as vestes, os hábitos, as maneiras de pensar de cada sociedade. Mudanças ocorridas ao longo de séculos, por meio das quais muitos elementos foram se sobrepondo a outros, formando o conjunto de valores e crenças de cada povo e cultura. Um destes fortes elementos é a fé, constituída em suas várias faces que convergem em alguma forma de relação transcendental, favorecendo, assim, diferentes modos de religiosidade.
Portanto, uma consideração importante a ser feita é a de que as pessoas enfermas estão em uma condição de vulnerabilidade, devido ao processo de enfrentar – positiva ou negativamente – a doença. Porém, mesmo nesta situação, deve-se levar em conta que cada pessoa também tem a sua história, a sua fé, as suas formas de crer em algo superior a si mesma. Isto implica no fato de haver mais na pessoa do que unicamente sua enfermidade.
Nesse sentido, a Pastoral da Saúde, bem como seus agentes, deve estar atenta não só aos seus interesses doutrinais, mas principalmente ao que é importante para as pessoas enfermas. O ambiente hospitalar contém uma gama mesclada de culturas, religiões e crenças diversificadas. Assim, deve-se levar em conta que, muito embora a Igreja Católica tenha seu papel pioneiro na prática e no cuidado da saúde no Brasil, ela não pode se eximir em compreender, auxiliar e promover a vida a todos, independente de suas crenças. Afinal, não importa como a pessoa crê, e sim que ela será amada!
 O sofrimento decorrente de uma doença faz manifestar muitos modos de compreender a Deus. Há quem pense em Deus como alguém que predestina os outros a sofrer ou não. Outros O compreendem como aquele que pune ou abençoa de acordo com as atitudes que se têm. Também há aqueles que, mesmo em suas limitações, não conseguem crer em Deus, ou que perante o sofrimento passam a crer, reconhecendo que realmente existe um Ser superior. Por fim, existem os que só conseguem enfrentar a dor justamente porque creem em Deus.
Tudo isto pode ser muito relativo, considerando as diferentes imagens que se têm de Deus. Portanto e, reconhecendo as várias denominações religiosas, antes de se tentar convencer algum paciente a aceitar a fé cristã católica, é imprescindível que o agente da Pastoral da Saúde esteja bem preparado, não só tecnicamente e teoricamente, mas sensivelmente. Em outras palavras, a pessoa que realiza o trabalho pastoral da visitação não pode tentar impor uma fé sem saber do mundo interno do outro.
Desse modo, ser agente da Pastoral da Saúde requer uma postura de atenção, de diálogo e de sensibilidade para perceber o que realmente é importante para a pessoa visitada. Embora esteja indo em nome da Igreja Católica e de Cristo, não pode o agente invadir e desrespeitar um espaço pessoal que não lhe é conhecido. Assim, o mais importante para um visitador é que se configure em uma presença de amor, ternura, compaixão e esperança, sentimentos cristãos que podem ser transmitidos fora da esfera de qualquer fundamentalismo religioso.
O essencial para a pessoa enferma é que se sinta acolhida, compreendida, amada, cuidada e não julgada pelo que ela crê. Agir assim é agir como Cristo! Ele não se aproximava dos doentes por causa da religião, mas sim porque os amava!
Pe. Guilherme Schmidt de Lima. 

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