Dom Canísio Klaus
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
Na quarta-feira de cinzas, dia 18 de fevereiro, a Igreja Católica estará lançando a 51ª Campanha da Fraternidade em terras brasileiras. O objetivo é aprofundar os laços de fraternidade entre as pessoas e comunidades, com o intuito de melhorar as condições de vida do povo. O tema deste ano é: “Fraternidade – Igreja e Sociedade”. O lema indica a diretriz que orienta a reflexão: “Eu vim para servir” (Mc 14,45). A Igreja entende que ela está no mundo para, assim como Jesus Cristo, servir e não para ser servida. A visualização deste serviço vem retratada no cartaz, onde encontramos o papa Francisco lavando os pés de um fiel na quinta-feira santa de 2014.
O caminho para que a Igreja possa cumprir com sua missão de servidora é o diálogo com as diversas instituições e organizações da sociedade. Isso para evitar três perigos, que poderíamos também chamar de três tentações presentes no relacionamento entre a Igreja e a Sociedade.
O primeiro é a Igreja agir como detentora absoluta da verdade, impondo a sua doutrina e concepção de organização a toda a sociedade sem se importar com a diversidade de ideologias, culturas e credos que compõem o conjunto da população do Brasil.
O segundo perigo é a sociedade ignorar totalmente a presença da Igreja, não levando em consideração a sua existência e a fé dos seus fiéis. Já em 1962, o então arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, afirmava que “a doutrina cristã tem repercussões irreprimíveis em todos os atos e setores da vida humana. Jamais os poderosos da terra encontrarão na Igreja um instrumento dócil e submisso para seus desígnios de mando irrestrito”.
Um outro perigo ainda é o de a sociedade perseguir a Igreja ou cobrar dela serviços que ela não consegue executar ou que não fazem parte da sua missão, que é de cunho religioso. “Sua ação evangélica repercute, porém, na organização e no fortalecimento da comunidade humana” (Texto Base da CF, n. 154).
Por causa da sua missão “em favor do bem integral da pessoa humana”, ganha importância o “diálogo cooperativo fraterno e enriquecedor com a realidade social e as instâncias representativas da ordem social” (Idem n. 59). Os critérios “a partir dos quais a Igreja discerne a oportunidade e o estilo de seu diálogo e de sua colaboração com a sociedade, são a dignidade da pessoa humana, o bem comum e a justiça social”.
Convido, pois, os grupos de família, as comunidades e os diversos grupos de Igreja a aproveitarem este tempo de graça que a Campanha da Fraternidade oferece para aprofundarem os laços de diálogo e cooperação com as organizações da sociedade. Tomem o Texto Base em suas mãos. Rezem muitas vezes a oração da Campanha da Fraternidade e cantem o Hino da Campanha. Levem a temática proposta para os Meios de Comunicação Social e para as organizações da sociedade civil. Mostrem para todos que a Igreja quer ser servidora, assumindo funções concretas na defesa e promoção da vida das pessoas que são pobres, estão enfermas ou sendo marginalizadas pelos detentores do poder.
Que o Senhor nos ensine a servir todos e nos abençoe nesta caminhada quaresmal!
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