Reflexões de Dom Alberto Taveira, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Por Dom Alberto Taveira Corrêa
BELéM DO PARá, 09 de Maio de 2014 (Zenit.org) -
Jesus veio trazer a vida para todos, e a
vida em abundância. As atividades pastorais da Igreja, assim como todas as ações
realizadas com espírito de caridade, por quem quer que seja, poderão se espelhar
sempre naquele que se ofereceu para a salvação da humanidade. Nenhum amor será
maior e suscitará tamanho fruto para a vida dos homens e mulheres de todos os
tempos.
Sua Ressurreição é a resposta à entrega total realizada em benefício da vida
em plenitude, o que leva os cristãos a dedicarem anualmente um período
significativo de sua vida ao aprofundamento do mistério pascal de Cristo, certos
de que nunca se esgotará esta fonte, na qual todos podem se saciar
continuamente.
A pregação dos Apóstolos de Jesus era muito direta e simples, pois anunciava
que o mesmo Jesus que tinha sido morto havia ressuscitado, e ele é o Senhor e
Salvador e um dia há de voltar. O anúncio foi suficiente para a conversão de uma
multidão de pessoas, já no início da pregação do Evangelho. Depois da primeira
pregação feita por Pedro, após a descida do Espírito Santo, ficaram compungidos
os corações, suscitando a pergunta sobre os caminhos a serem percorridos a
partir dali. A resposta é igualmente direta e provocadora: “Convertei-vos e cada
um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos
pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38).
Os Atos dos Apóstolos contam os feitos e fatos das primeiras comunidades
cristãs, nas quais resplandece, naqueles que acolhem o anúncio, um novo estilo
de vida: comunhão na oração, perseverança na doutrina dos Apóstolos, que
anunciavam a Palavra de Deus, partilha fraterna dos bens e a Fração do Pão, que
foi o primeiro nome da celebração da Eucaristia. Nasceu a Comunidade viva,
estendeu-se a grande rede da caridade, as pessoas se sentiram acolhidas e
amadas. Na mesma fonte, continuam disponíveis as graças e as forças necessárias,
para que a vida dada por Jesus a todos se multiplique e seja repartida no amor
fraterno experimentado no cotidiano, até a volta do Senhor.
Desde os primeiros tempos, a doação de vida e o amor verdadeiro, testemunhado
no dia a dia da humanidade, atraem e convocam as pessoas. Mais do que as
palavras, vale o testemunho de vida. Multiplicam-se os exemplos de pessoas com
grande criatividade no amor ao próximo, com o qual a vida em abundância (Cf. Jo
10,10) permanece a meta a ser alcançada. Sempre que a gratuidade do amor se faz
visível, a partir da emoção e até chegar à profundidade do raciocínio dos mais
sábios e inteligentes, ninguém resiste.
Basta pensar em dias significativos, como as comemorações das mães, dos pais,
ou o dia dos professores, ou dos médicos e assim tantas outras celebrações que
envolvem as famílias, a sociedade e a Igreja. Ao celebrar neste final de semana
o dia das mães, esta imagem do amor gratuito e desinteressado, livre, forte e
cheio de ternura, ocupa espaço na imaginação das pessoas e provoca gestos de
carinho, presentes, flores e alegria. Vale meditar sobre este amor, conduzidos
pelas mãos do Bom Pastor.
Que força é esta, capaz de dobrar os mais rígidos em seu temperamento? São
João, em sua Primeira Carta, afirma de forma categórica: “Amemos-nos uns aos
outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece
a Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. Foi assim
que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao
mundo, para que tenhamos a vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos
nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como
oferenda de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim,
nós também devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos
amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é plenamente
realizado” (1 Jo 4, 7-12).
O Amor não é privilégio das mães, mas nelas se instalou de forma
surpreendente, justamente por ser tão semelhante ao amor de Deus. Parece-me
possível encontrar a figura ímpar do Bom Pastor, Jesus, na festa que a Igreja
celebra, na alma das mães que enaltecemos nas grandes figuras maternas que nos
envolvem (Cf. Jo 10, 1-10).
O amor de mãe conduz os filhos e a família a escolherem os melhores caminhos.
Mãe imprime rumo nas opções feitas pelos filhos gerados no seio da família.
Mesmo se porventura se desviarem, será sempre possível voltar ao regaço
acolhedor de um coração de mãe. As mães se cansam para levar a descansar esposo
e filhos. Prados e campinas verdejantes, ou as águas repousantes que restauram,
muitas vezes são sinalizadas pelas mães que velam pelos filhos pequenos ou
grandes. E quem não sentiu restauradas as forças para a luta ao encontrar a
solicitude de sua mãe?
A honra dos muitos nomes de tantas e generosas mães conduz por caminhos
seguros, ainda que passem os filhos por vales tenebrosos pelos caminhos da vida.
Quando o medo toma conta, a figura e o apelo à mãe se repetem mesmo nos filhos
crescidos ou até envelhecidos. Ao por do sol da existência nesta terra, as
pessoas acometidas por diminuição da lucidez, viram crianças, como costumamos
dizer, e não é raro ouvir pessoas velhinhas que começam a chamar pela mãe,
falecida há tanto tempo. Força e ternura, bastão e cajado, cabem bem nas mãos
das mães.
E se queremos uma imagem bonita da força do amor que dá a vida, basta pensar
em almoço de domingo, em que as mães preparam a mesa, perfumam com o óleo do
carinho suas casas e fazem vir à festa da fartura, a abundância cantada pelo
salmista.
Enfim, não faz mal algum pensar apenas na felicidade e no bem, desejado e
edificado pelas mães, ao darem a vida pelos seus, no heroísmo cotidiano. E como
queremos todos passar um dia da mesa da família para a Casa do Senhor, na qual
habitaremos por toda a eternidade, as mães são aquelas que nos falam do Céu, que
nos ensinam a rezar e nos abrem os horizontes do infinito (Cf. Sl 22).
A festa das mães acontece no segundo domingo de maio, mês dedicado àquela que
foi escolhida para ser Mãe do Redentor, Mãe de Deus e Senhora nossa. A ela, nos
vários e lindos títulos com os quais a homenageamos, Chegue ela a oração
fervorosa, especialmente por nossas famílias, a fim de que sejam o lugar da
doação recíproca da vida. Assim nos conduza o Cristo, Bom Pastor!
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