quinta-feira, 17 de julho de 2014

O espírito de Deus




Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre

Nestes dias, a Igreja inteira canta: “Vinde Espírito Santo de Deus e enchei os corações dos vossos fiéis...”. Canta, pois cremos que a força do Espírito Santo haverá de fazer novas todas as coisas, renovando assim a face da Terra.

Nós, que vivemos uma “mudança de época”, sentimos a necessidade de “um raio de luz” do Espírito Santo, para que possamos, enquanto comunidade humana, discernir os designíos do Eterno para a nossa realidade de hoje, marcada por contradições de toda espécie, tensões provindas de expressões fundamentalistas e individualistas, além de sinais de violência que não mais causam indignação.
O Espírito Santo certamente sempre esteve presente nas diversas fases da história. Já estava presente na origem do mundo (cf. Gn 1,1-2). Fez-se ainda mais presente em Maria de Nazaré, possibilitando a humanidade de Jesus. Acompanhou toda a atividade terrena de Jesus: na sua força pôde ele curar doentes, expulsar espíritos impuros e ressuscitar mortos.
Marcou o nascimento da Igreja quando, 50 dias após a Páscoa, estando os discípulos do senhor Jesus reunidos, “de repente, veio do céu um ruído como de um vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam. Então, apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo...” (At 2, 2-4). E, se até então aqueles homens estavam marcados pelo medo, agora foram tomados por uma coragem tal que causava admiração e perplexidade (cf. At 2, 12). Tal coragem e força lhes permitiu percorrer aldeias, cidades e regiões anunciando a Boa Nova de Jesus e cooperando para o fortalecimento das igrejas na fé (cf. At 16,5).
É o mesmo espírito que continua inspirando e orientando a Igreja nos tempos atuais. Em meio às mais diferentes situações culturais, sociais, políticas e econômicas, a Igreja se compreende conduzida pelo Espírito Santo; por isso, ela, como mãe, exorta sem cessar os seus filhos a que se purifiquem e se renovem, para que o sinal de Cristo brilhe mais claramente no rosto da Igreja (Cf. Gaudium et Spes, 43). Fiel a seu fundador, a Igreja deseja sempre mais se fazer solidária com os que mais sofrem no mundo. Quer sempre mais ser a “casa aberta” que acolhe a todos sem distinção, e, ao mesmo tempo, deseja que seus ministros não se cansem de ir ao encontro dos fiéis, especialmente os que mais sofrem. Desse modo, ela procura corresponder à ordem do próprio Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura” (Mc 16, 15).
Nós, homens e mulheres, marcados pela fé cristã, nos colocamos de joelhos diante do Senhor e com toda a Igreja rezamos: “Vinde, Espírito Santo, e enviai do céu um raio de vossa luz. Vinde, pai dos pobres, vinde, distribuidor dos bens, vinde luz dos corações. Consolador ótimo, doce hóspede das almas e suave refrigério. Nos trabalhos sois o repouso, no calor o frescor, nas lágrimas a consolação. Ó luz beatíssima, inflamai o íntimo dos corações dos vossos fiéis. Sem a vossa graça nada há no homem, nada de inocente. Lavai o que é sórdido, regai o que é seco, sarai quem está ferido. Dobrai o que é duro, abrasai o que é frio e reconduzi o desviado. Concedei aos vossos servos, que em vós confiam, os sete dons sagrados. Dai-lhes o mérito das virtudes, o êxito da salvação e a alegria perene. Amém.”

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