Dom Odilo Scherer reflete sobre os esforços da Igreja para amparar e fortalecer o núcleo fundamental da sociedade
Por Maria Emilia Marega Pacheco
FORTALEZA, 14 de Julho de 2014 (Zenit.org) -
O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo
de São Paulo, em artigo publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, destaca o
papel fundamental da família na sociedade e a preocupação da Igreja em tratar os
desafios por ela enfrentados.
O texto do Cardeal parte da decisão do Conselho de Direitos humanos da
Organização das Nações Unidas (ONU), em seu 26° período de sessões de “Proteção
à Família”, que aprovou uma resolução na qual a família é reconhecida como o
núcleo “natural e fundamental da sociedade”, destacando “o direito a proteção
por parte da sociedade e o Estado”.
“Pareceria que a ONU aprovou o óbvio ao se referir ao direito das crianças,
pois é difícil imaginar que alguém possa afirmar o contrário” – afirma D.
Odilo-.
Dom Odilo recorda que “mesmo em tempos de crise, a instituição familiar tem
merecido o melhor dos esforços da Igreja, para ampará-la e fortalecê-la em sua
dignidade e função social”. A Igreja Católica “não desconhece as dificuldades
que sacodem a instituição familiar; mas não a considera como um barco à deriva,
que deva ser abandonado à própria sorte”, afirma.
“Compreende-se, assim, por que o papa Francisco convocou uma assembléia
extraordinária do Sínodo dos Bispos, com o objetivo de tratar dos atuais
desafios da família, que interpelam também a missão da própria Igreja”.
Dom Odilo Scherer cita o Instrumento de trabalho do Sínodo sobre a família,
elaborado a partir das respostas a um amplo questionário espalhado pelas
dioceses do mundo inteiro.
“As respostas trataram de uma lista extensa de situações vividas pela
família, que vão da difusão dos ensinamentos da Igreja sobre a família e o
casamento, e sua recepção, ao trato da Igreja com tais questões, às pressões
culturais, econômicas e morais sofridas pela família; mas também contemplam as
atuais realidades familiares, como as novas uniões depois de uma separação ou
divórcio e sua participação na vida da Igreja; as uniões sem formalização
alguma, nem civil, nem religiosa; a aparente descrença no casamento e na família
e a transmissão responsável da vida; a educação dos filhos, cada vez mais fora
da responsabilidade dos pais; as uniões de pessoas do mesmo sexo, com a
pretensão de ter status de casamento e família; as políticas contrárias ao
casamento e à família em várias partes do mundo...”.
O que leva a Igreja a refletir sobre essas questões, “é a preocupação com as
pessoas envolvidas nessas diversas situações concretas, sem abandoná-las, nem
lhes dar a impressão de que a Igreja e o próprio Deus não têm mais nada para
lhes oferecer”, afirma D. Odilo. “O Evangelho, de toda maneira, continua sendo
“boa nova” de salvação e de vida para todos; as dificuldades atuais não são, nem
devem ser, a referência última para a família e a pessoa humana”.
O Cardeal destaca que “não se espere que o Sínodo vá enfrentar esses temas de
maneira pragmática, buscando apenas chegar a um simplista “pode-não pode”. As
questões são profundas e não dependem de uma atitude voluntarista da Igreja,
amoldável aos humores do tempo e dos movimentos culturais”. “Elas se inscrevem
numa crise antropológica e cultural aguda, que atinge a própria pessoa humana,
sua identidade e sentido”.
“Quando o ser humano é apreciado apenas do ponto de vista instrumental e
utilitarista, ele passa a ser objeto de uso e meio para atingir objetivos de
outras pessoas, da sociedade ou do Estado; e já não é mais vista um fim em si
mesmo, como ensinava Emmanuel Kant: ‘o ser humano nunca deve ser tido como um
meio, mas sempre como um fim em si mesmo’”.
Para D. Odilo “essa verdadeira deturpação do sentido do ser humano também
leva à concepção da vida como aventura voltada sobre o próprio indivíduo, para o
usufruto das sensações do momento, sem o horizonte da alteridade, no qual ele
encontra a sua verdadeira expressão e sua realização mais plena”, o que gera uma
grande “desorientação nas relações humanas, no sentido do amor, bem como nas
instituições sociais mais elementares, como o casamento e a família, anteriores
à própria sociedade organizada e ao Estado”..
A assembleia extraordinária do Sínodo é uma etapa do “caminho sinodal”, que
se concluirá na 14ª assembleia ordinária do Sínodo, em outubro de 2015. Por fim,
o Cardeal explica que “agora, o objetivo é fazer uma reflexão aprofundada sobre
a situação da família e do casamento, para compreender melhor os motivos da sua
crise e discernir sobre as novas perspectivas que se abrem para a missão da
Igreja”.
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