sábado, 28 de dezembro de 2013

O Canto da Noite Feliz


Foi mesmo uma noite feliz e inspirada aquela de 24 de dezembro de 1818, na Capela de São Nicolau, em Oberndorf, nas imediações de Salzburg, Áustria. Como e por que aconteceu? Coisas de Deus, muitas vezes inexplicáveis!...
Era a noite de Natal. O pároco da pequena capela, Joseph Mohr, um pouco poeta e um pouco músico, percebeu, já no final da tarde, que o órgão estava quebrado. Como faria para cantar com o povo da aldeia, acostumado a solenizar a “Missa do Galo”, celebrando o nascimento de Jesus, sem ter um canto especial? Não poderia ser... E então a divina, surpreendente inspiração aconteceu. Como se fosse o próprio Deus a tomar sua mão e escrever a canção “Noite Santa... Noite Feliz... Noite de paz...”, as seis estrofes lhe nasceram do coração emocionado. Lembrou-se então do seu amigo músico, Franz Xaver Gruber (nascido a 25 de novembro de 1787, em Unterweissberg, e falecido em Hallein, a 7 de junho de 1863, professor de música e regente), da cidade vizinha de Habendorf, e foi pedir-lhe para colocar música na canção: que o fizesse a duas vozes – para solo e coro – com acompanhamento de violão. Três acordes básicos deram corpo à singela melodia, que o compositor começou a tocar suavemente ao violão. Acabara de nascer a mais bela e extraordinária canção natalina! Os dois fizeram pequeno ensaio e aguardaram a chegada do povo. O silêncio, nada costumeiro, foi dando lugar à suavidade das vozes de ambos, que começaram a cantar – canto e contracanto -, entrando o coro da Igreja na repetição dos versos finais. Aos poucos todos estavam murmurando a simples melodia e aplaudindo os dois artistas de Deus, que choravam de alegria e emoção.
No ano seguinte, o órgão estava consertado... e a música da Noite Feliz foi esquecida, permanecendo assim até o ano de 1835, quando o mesmo tornou a apresentar problemas e foi consertado por um dos maiores especialistas em órgão da Europa. Para testar o instrumento, ele procurou tocar uma partitura ali perdida, que para surpresa sua, era a canção da Noite Feliz. Soava ao órgão como melodia vinda do céu, enchendo a capela de acordes divinos... Os autores lhe permitiram copiar e divulgar a notável canção tirolesa, que a partir de então começou a ressoar no mundo inteiro. Atravessando o tempo e a distância, cantada em mais de 500 dialetos, tornou-se para todos a Canção de Natal, assim consagrada até os nossos dias, unindo os povos, raças e nações num único desejo: que o Deus Menino, nascido em Belém, nasça no coração de cada um, traga paz e vida ao mundo...
Foi pura graça a experiência que Deus me permitiu fazer a 22 de dezembro de 1983, visitando a pequena cidade e o local da capela onde ressoou pela primeira vez a canção natalina. Em nome de tantos amigos, a entoei novamente, coração comovido e alma no céu... A neve caía... caía a noite... iluminando as montanhas tirolesas que cercam a pequena e graciosa Oberndorf. Uma cópia da  partitura original guardo-a comigo... mas ainda vivem em mim as vozes e os instrumentos típicos do Tirol, que a cantam um pouco diferente de nós, na forma original, doce e suave, do modo como só eles são capazes. Traduzida, orquestrada e cantada de mil formas, prefiro a canção original, como soa da Catedral de Salzburg  à  mais pequena capela austríaca, ou mesmo no Mosteiro beneditino do Nonnberg, onde também passei, comovida,  a noite feliz de 1983.
Nossa Missa da Noite Feliz, que carrega a ternura poética do Pe. Lucio Floro e a sensibilidade musical que o Divino Artista me deu, é certamente inspirada nesta experiência natalina. Quem a quiser ouvir e cantar, se emocionar e ter o coração no céu ou o céu no coração, procure na Paulus o CD “O Senhor, minha Festa”. Aqui, a música, uma vez mais, traduz o inexprimível, cantando esta “Noite de amor... noite feliz... noite de céu!... Pois, se Jesus é meu Irmão, eu já sou feliz!...”


Ir. Miria T. Kolling

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