segunda-feira, 11 de novembro de 2013

50 ANOS DA SACROSANCTUM CONCILIUM - I




Há 50 anos estava acontecendo o maior evento da Igreja no século XX: o Concílio Ecumênico Vaticano II. Mais de 2.500 bispos do mundo inteiro estavam reunidos em Roma para buscar novos caminhos para que a Igreja continuasse a ser, com maior evidência, sal da terra e luz do mundo (Mt 5, 13-16). Os caminhos da reforma iniciaram pela liturgia. A partir do início do século XX, alimentava-se na Igreja visível desejo de renovação teológica, espiritual e pastoral no campo da liturgia, pois esta continuava a sofrer o danoso fixismo e rubricismo de quatro séculos tridentinos, somados à forte influência das tendências litúrgicas de todo o IIº milênio, com seus acentuados “deslocamentos de eixo” na compreensão e vivência da liturgia.
A centralidade da liturgia, como celebração do mistério pascal, cedera lugar às devoções (Santíssimo Sacramento: ver e adorar; santos intercessores; novenas; promessas...). As devoções ocupavam o lugar central. Os sacramentos eram vistos muito como remédio para curar, para satisfazer outras necessidades e para livrar de castigos divinos. A dimensão eclesial e comunitária da liturgia cedera lugar ao individualismo religioso, pois o padre era considerado único celebrante: um especialista realizava a ação sagrada por todos. O povo já não era mais considerado assembléia orante, sujeito da celebração; não participava diretamente e por isso ocupava-se com devoções (assistia, sem entender a língua: perdera-se o valor da Palavra);o uso da língua e dos costumes dos povos na celebração dos mistérios da liturgia cedera lugar ao centralismo romano que obrigava a adotar os moldes medievais e pós-tridentinos de celebrar. O gênio romano puro (simplicidade, sobriedade e praticidade) fora substituído pela pompa barroca, triunfalista e luxuosa, com destaque exagerado aos elementos externos do culto, como afirma o liturgista Frei José Ariovaldo da Silva: passou-se “do essencial para aspectos acidentais, do teologal para o devocional, do eclesial-comunitário para o individualismo religioso, do mistério celebrado para o cumprimento meramente exterior dos ritos, da adaptação às culturas para a uniformidade rígida e obrigatória para todos”.
Desde o final do séc. XIX surgiram tentativas de mudança, as quais se fortaleceram durante o Movimento Litúrgico clássico do séc. XX. O Papa Pio XII chegou a afirmar no Congresso Eucarístico Internacional de Assis (1956): “O movimento litúrgico apareceu como um sinal das providenciais disposições divinas em nosso tempo, como uma passagem do Espírito Santo sobre sua Igreja, para aproximar muito mais os homens dos mistérios da fé e das riquezas de graça que provêm da participação ativa dos fiéis na vida litúrgica”.
Mesmo com algumas resistências, foi de todos os documentos o que causou menos dificuldades. Uma comissão pré-conciliar apresentou texto inicial, já em outubro de 1962, o qual, depois de emendado mais vezes e votado pelos Padres conciliares, foi aprovado e promulgado em sessão solene presidida pelo Papa Paulo VI, em 04 de dezembro de 1963, como primeiro documento do Concílio Ecumênico Vaticano II. Estava, assim, aberto o caminho do Concílio e da reforma (renovação) litúrgica na vida da Igreja. A Liturgia resgatara novamente a centralidade do Mistério pascal, em todas as suas formas celebrativas, como momento histórico da salvação, a fonte mais excelente de espiritualidade cristã. O desvio dos eixos acabara de ser identificado e ratificado.
No início de dezembro estaremos celebrando o cinqüentenário da aprovação da Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, que trouxe e ainda deverá trazer tantos benefícios à Igreja, à medida que entendermos o seu verdadeiro espírito.

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