quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Líder da Caritas diz que o custo humano das mudanças climáticas recai principalmente nos mais pobres

Temos que assumir a responsabilidade de cuidar da Terra, exorta o cardeal Maradiaga
Por Redacao
ROMA, 24 de Setembro de 2014 (Zenit.org) - Apresentamos a seguir uma reflexão sobre as mudanças climáticas escrita pelo cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, presidente da Caritas Internationalis.
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Quando a fome e a pobreza transformam cada dia numa batalha pela sobrevivência, as mudanças climáticas impõem o seu maior peso em cima dos mais pobres. É por isso que eu vim a Nova Iorque, nesta semana, para pedir ação imediata por parte dos governos.
Eu participei, com os líderes de várias religiões, na Cúpula Inter-Religiosa da Mudança do Clima, realizada de 21 a 22 de setembro. Os apoiadores da Caritas em todo o mundo também se juntaram, nesse mesmo período, a centenas de milhares de pessoas em cidades como Nova Iorque, Londres e Paris para pedir ação urgente a fim de enfrentarmos as alterações climáticas.
Juntos, nós temos a esperança de deixar claro para os líderes mundiais reunidos hoje na ONU, para a sua reunião de cúpula sobre a mudança climática, que é necessária uma ação urgente.
A mensagem é nítida: a mudança climática é um dos maiores obstáculos para a erradicação da pobreza no mundo. Nós declaramos: "Quando aqueles que menos provocaram a mudança climática são os mais atingidos por ela, a questão é de injustiça. São urgentemente necessárias soluções equitativas".
Somos herdeiros de dois séculos de marcantes ondas de evolução tecnológica, das revoluções industriais às digitais. Vimos milhões de pessoas serem retiradas da pobreza em todo o mundo e algumas doenças serem erradicadas para sempre.
No entanto, o crescimento da economia durante este período teve um custo. Cerca de um bilhão de pessoas ainda passam fome. O mundo em que vivemos hoje vai se tornando mais desigual.
Com o nosso modelo de progresso e de crescimento, especialmente dependente do uso de combustíveis fósseis, nós tivemos um impacto decisivo sobre a natureza. Terras, florestas, desertos, geleiras, rios e mares estão mudando.
Seja através de colheitas mais pobres, de terras mais áridas, de oceanos mais ácidos ou de eventos climáticos mais extremos e imprevisíveis, muitas vezes desastrosos, o impacto da mudança climática é inconfundível e cientificamente comprovado, acima de qualquer dúvida. E ele afeta a nós todos.
Os pobres são afetados mais duramente
Num mundo que dispõe de comida suficiente para todos, mas no qual existe cerca de um bilhão de pessoas passando fome, as alterações climáticas ameaçam colocar, além delas, mais 20% da população em risco de fome até 2050.
Grande parte do planeta fértil que nos foi dado para que o protegêssemos, cultivássemos e dele desfrutássemos já foi corrompida. Nós nos tornamos indiferentes ao dano que estamos causando, tanto ao mundo natural quanto aos nossos irmãos e irmãs mais pobres. Essa indiferença provocou uma crise que é urgente encararmos.
No fundo, este é um debate sobre o que nós gostaríamos de viver: um desenvolvimento inclusivo e em harmonia com a natureza, ou um desenvolvimento que exclui e que destrói.
"A proteção do meio ambiente tem sido subordinada ao desenvolvimento econômico, prejudicando a biodiversidade, abusando das reservas de água e de outros recursos naturais e poluindo o ar" (Aparecida).
Encruzilhadas
As etapas políticas que surgem à nossa frente nos impõem desafios reais, mas nós ainda os vemos como oportunidades sem precedentes para imprimir um tom positivo ao futuro, à nossa vida e à das gerações vindouras.
Há uma clara mensagem para os nossos líderes: nós chegamos a uma encruzilhada e a necessidade de fazer uma escolha é gritante.
A primeira estrada é a de continuarmos destruindo a maravilhosa criação de Deus. O aquecimento e os seus decorrentes climas extremos atingirão níveis sem precedentes na próxima geração e 40% dos pobres do mundo, que têm um papel mínimo na poluição global, são os que mais vão sofrer.
A segunda estrada é aquela em que a humanidade assume a sua responsabilidade comum para moldar uma ética de cuidado e de proteção da terra para as gerações futuras, com decisões políticas e econômicas guiadas por um profundo senso de responsabilidade e de preocupação com o bem comum.
Vamos seguir a segunda estrada!
Moldado pelo respeito à vida e, sobretudo, à dignidade da pessoa humana, um mundo mais saudável, mais seguro, mais justo, mais próspero e mais sustentável é possível. Um desenvolvimento sustentável autêntico é viável, técnica e politicamente.

Para este fim, os esforços conjuntos dos líderes mundiais em responder ao desafio ecológico é um teste da sua opção preferencial pelos pobres e uma oportunidade real de colocar essa opção pelos pobres no centro dos sistemas e dos processos globalizados. É uma oportunidade que precisa ser aproveitada.

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