sexta-feira, 25 de julho de 2014

Igreja: quem és tu?


Pe. Renan Dall´Agnol

Passados 51 anos da abertura do Concílio Vaticano II (1962), pode-se correr o risco de considerá-lo simplesmente uma memória. Numa época de mudanças, acha-se estranho, olhar um momento já acontecido. Todavia, o concílio desencadeou um processo eclesial profundo, e que ainda está em aberto. A Igreja sentia a necessidade de atualizar a maneira de apresentar ao mundo as verdades de fé. Assim, definiu-se a tarefa primordial: apresentar a verdadeira identidade da Igreja, na sua natureza e missão.

Uma ruptura?       
O concílio não provocou uma ruptura com a tradição da Igreja. Pelo contrário, ele procura responder às rupturas do desmoronamento de um sistema cultural, em que aconteceu a dissociação e a ruptura entre a fé e cultura. Com a queda do sistema cultural vigente, faz-se necessário reorganizar toda a conjuntura social.
Logo, o concílio foi uma ponte e não uma ruptura, porque fez a Igreja sair do gueto cultural, já insustentável em suas expressões na época.

Por que o concílio?
O Papa João XXIII via a necessidade de tornar compreensível a mensagem cristã ao mundo moderno. Ou seja, o anúncio do Evangelho precisava ser mais claro às pessoas. Neste sentido, o concílio preocupou-se em tornar a Igreja mais acessível ao invés de combater erros. O Papa Paulo VI manifestou que o concílio devia perguntar-se sobre o que a Igreja se compreende sobre si mesma, para assim dialogar.

O que é a Igreja?
Na Lumen Gentium, a Igreja é apresentada, primeiramente, como mistério. A palavra mistério não significa um enigma incompreensível. Antes de tudo, no mistério de Deus vivemos e nos movemos. É possível compreender a mensagem central do mistério, mas jamais se pode abranger toda a sua complexidade.

Quem fundou a Igreja?
A Igreja é o que é em Deus. “Sendo Cristo luz dos povos” a Igreja é, em Cristo, o sinal e instrumento de salvação. Absolutamente, não se pode pensar uma Igreja sem Cristo ou à margem do Espírito Santo, porque em Deus ela é sacramento, sinal de íntima união com Deus e com o gênero humano. O Filho de Deus, que assumiu nossa humanidade, que morreu e ressuscitou para nossa salvação, é quem preparou a Igreja, sob a vontade do Pai, e a fundou para perpetuar a obra salvadora na história da humanidade, sob a ação santificadora do Espírito Santo. “A Igreja, isto é, o reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus” (LG, 3). Portanto, à luz do mistério da Trindade é que a Igreja é “fundada”.

Uma imagem da Igreja: Povo de Deus
A Igreja é um mistério de comunhão, semelhante à comunhão que há entre as Pessoas da Trindade. Pois“aprouve a Deus santificar e salvar os homens, não individualmente, excluindo toda relação entre os mesmos, mas formando com eles um povo, que o conhecesse na verdade e o servisse em santidade” (LG, 9). Para compreender essa unidade que vive a Igreja, a tradição utiliza inúmeras imagens: redil do rebanho, campo de Deus, edifício de Deus, corpo de Cristo, entre outras. Mas o concílio trouxe de forma inovadora e significativa a compreensão da Igreja como Povo de Deus.
Antes do Vaticano II, a Igreja, era percebida como uma instituição exclusivamente hierárquica, em que se identificava Igreja somente aos membros do clero. Antes das diferenças de ministérios, a Igreja é Povo de Deus. Os leigos têm uma missão que lhes é concedida, originariamente e de modo definitivo, pelo próprio Jesus Cristo, nos sacramentos do Batismo e da Crisma.
Todos os membros da Igreja constituem uma unidade na diversidade e são igualmente chamados à santidade. Consequentemente, ser santo não é resultado de méritos e esforço pessoal, mas é pura graça de Deus.
Esta imagem da Igreja como Povo de Deus manifesta que ela não é uma entidade estática, petrificada, fora da história humana. Ao contrário, a Igreja faz parte da história e a ilumina com a salvação que brota de Cristo.


BOA NOTÍCIA | JULHO 2014

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