"Deus contemplou
toda sua obra, e viu que tudo era muito bom" (Gn 1, 31). Poderíamos
imaginar o júbilo de Deus ao contemplar as maravilhas por Ele criadas: o
fulgurante céu estrelado, a elegante movimentação das ondas do mar, o colorido
das aves e das flores, a força decidida das feras... "tudo era muito
bom". De fato, toda a obra da criação é boa justamente por ser um reflexo
do Altíssimo e pela qual mais facilmente o homem pode transcender ao Criador.
Ensina-nos
a Teologia, que Deus ao amar algo, infunde neste a bondade. Não é sem razão que
um dos atributos de Deus é a Bondade Infinita que "compreende todas as
bondades, sendo o bem de todos os bens".1Inúmeras são as páginas das
Sagradas Escrituras nas quais se revelam tão profundamente a Bondade de Deus,' "O
Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo" (Sl
102, 8). Mesmo no Antigo Testamento, onde o Senhor todo-poderoso se revestia da
armadura das vinganças e era temido como o Deus dos exércitos, a manifestação
de Sua bondade estava presente: "Com quem é bondoso vos mostrais bondoso,
com homem íntegro vos mostrais íntegro" (II Sm 22, 26).
Entretanto,
foi no Novo Testamento que a Bondade se manifestou prodigiosamente aos homens
com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo à terra. Qual coração, podendo escutar
e presenciar as divinas palavras emanadas dos lábios divinos do Redentor não se
comoveria com o apelo do Redentor: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos
tenho amado"? (Jo 13, 34). Somente uma Bondade infinita amaria os homens,
tanto os santos como os pecadores, a ponto de verter todo o sangue no madeiro
da Cruz. "Que glória, que triunfo, que fastígio atingira Nosso Senhor
Jesus Cristo com sua Paixão! Que humilhação nos infernos, esmagados pelo erro
de ignorar a força invencível do Bem!".2 Nosso Senhor Jesus Cristo venceu
o império de satanás pela Bondade suprema! Bondade esta tão vergonhosamente
rejeitada pelos Anjos decaídos.
Se
pensássemos que a Bondade de Deus foi manifestada somente no Sacrifício do
Calvário, enganamo-nos a nós mesmos. Quis Ele depositar em nossas mãos o
auxílio onipotente d'Aquela que é considerada a Aurora e Esplendor da Igreja
Triunfante, o maior reflexo da bondade de Deus aos homens: Maria Santíssima !
Quantas
não foram as conversões realizadas na História através de sua intercessão! O
famoso judeu convertido ao catolicismo, Ratisbonne, após a magnífica aparição
da Virgem, proclamava e repetia inúmeras vezes com ardor: "Como Ela é o
bondosa!". Dando a entender que, com tal intensidade de benquerença manifestada
por Maria Santíssima, até mesmo pedras brutas e enraizadas no pecado se comovem
e abraçam o verdadeiro e reto caminho.
Conta-se
que, no século passado, um membro de uma organização anticatólica converteu-se
e, poucos instantes antes de sua morte, confessou-se. Como os demais membros
desconfiassem que este tivesse revelado os segredos de tal organização,
encarregaram outro adepto a fim de aniquilarem o sacerdote que o havia
confessado.
O
futuro assassino, fingindo que iria confessar-se, obrigou o sacerdote a contar-lhe
os segredos que lhe haviam sido revelados. O digno sacerdote, porém, sendo fiel
ao seu estado, disse-lhe que não lhe contaria nada e se fosse necessário
matá-lo podia fazê-lo, mas apenas pedia uns minutos para invocar o auxílio de
"nossa Mãe". Ao escutar as palavras "nossa Mãe" o perverso
assassino prorrompeu em pranto, pedindo a confissão para que pudesse realmente
ser considerado filho de Mãe tão santa e boa.
Se
mesmo os criminosos, afastados da Igreja, são objetos da Bondade da Virgem, que
se dirá daqueles que se consagram a Ela? Caminhando neste "vale de
lágrimas", contemplar a bondade de Deus nos dá verdadeiro alento e
alegria. Portanto, não cessemos de admirar tamanho tesouro, mas saibamos apelar
a essa Bondade Suprema em todas as dificuldades que nos são oferecidas, por
meio d' Aquela que é a Auxiliadora dos Cristãos e Consoladora dos Aflitos. Se
soubermos nos apresentar a Ela como verdadeiros filhos, embora fracos, Ela nos
conduzirá à visão bem-aventurada da Bondade Infinita. Ela é o caminho seguro,
"pois é o caminho traçado pela mão mesma de Deus".3
Recorramos
a Ela e como seus filhinhos, lancemo-nos a seus pés e aos seus braços com uma
perfeita confiança, em todos os momentos e em todos os acontecimentos
invoquemos a esta Mãe tão santa e boa. Imploremos o seu amor materno, tenhamos
um coração de filho e esforcemo-nos por imitar as suas virtudes.4
Por Irmã Isabel Sousa, EP
1 - SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma contra os gentios. Livro I c. XL. le
2.
2 - CLA DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais. Ano C. Cittá del Vaticano! São Paulo: L.E. Vaticana/ Lumen Sapientiae, 2012, v. V, p. 263.
3 - ROSCHINI, Gabriel. Instruções Marianas. Trad. José Vente São Paulo: Edições Paulinas, 1960. p.308.
4 - SÃO FRANCISCO DE SALES. Filotéia ou Introdução à devota. Trad. de José de castro. 8°ed. São Paulo: Vozes, 1958. p. 116.
2 - CLA DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos. Comentários aos Evangelhos dominicais. Ano C. Cittá del Vaticano! São Paulo: L.E. Vaticana/ Lumen Sapientiae, 2012, v. V, p. 263.
3 - ROSCHINI, Gabriel. Instruções Marianas. Trad. José Vente São Paulo: Edições Paulinas, 1960. p.308.
4 - SÃO FRANCISCO DE SALES. Filotéia ou Introdução à devota. Trad. de José de castro. 8°ed. São Paulo: Vozes, 1958. p. 116.
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