Casa Santa Marta: Bergoglio alerta contra os "vermes" que se insinuam no coração do homem, transformando-o num "semeador de amargura" que destrói as comunidades
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 23 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) - Sobre as "fofocas", o papa Francisco já
falou em várias ocasiões: em sermões na Casa Santa Marta, no encontro com a
Cúria Romana em 21 de dezembro, pedindo "objeção de consciência" contra elas. A
mesma exortação foi feita novamente na homilia da missa de hoje, durante a qual,
além das fofocas, o papa alertou contra duas outras más atitudes: a inveja e o
ciúme.
Esse "tripé" de maledicência, ressentimento e rivalidade é, de acordo com o
Santo Padre, o que "destrói as comunidades cristãs". Não por acaso, o papa o
recorda no sexto dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, depois de
denunciar, ontem, o "escândalo" das "divisões" que ainda existem entre os
cristãos.
Nesta reflexão, Francisco partiu da primeira leitura do livro de Samuel, que
fala da exultação dos israelitas pela vitória sobre os filisteus, graças à
coragem e astúcia do pequeno Davi. Nem todos, no entanto, elogiam o jovem herói.
Aquele que para as mulheres é motivo de alegria, para o rei Saul é fonte de
tristeza e de inveja. "A grande vitória começa a se tornar derrota no coração do
rei", disse o papa: naquele coração, tinha entrado o "verme do ciúme e da
inveja".
É natural traçar um paralelo com Caim, cuja alma foi corroída pela amargura
em relação com o irmão Abel. E, como aconteceu com os primeiros irmãos da
história, Saul também decidiu que a melhor solução era matar Davi. O rei,
explicou o pontífice, "em vez de louvar a Deus como as mulheres de Israel por
esta vitória, prefere se fechar em si mesmo, se amargurar" e "cozinhar os seus
sentimentos no caldo dessa amargura".
Isto é o que "o ciúme faz em nosso coração", advertiu o Santo Padre: "é uma
ansiedade ruim, que não tolera que um irmão ou irmã tenha algo que eu não
tenho". Sem percebermos, "ele nos leva a matar (...) Foi por essa porta, pela
porta da inveja, que o diabo entrou no mundo", lembrou o papa.
"O ciúme e a inveja abrem as portas para todas as coisas ruins. E dividem a
comunidade". Quando uma comunidade cristã "sofre de inveja, de ciúme, ela
termina dividida: um contra o outro. É um veneno forte. É o veneno que
encontramos na primeira página da Bíblia com Caim".
Há dois sintomas "muito claros" desta doença que afeta o coração humano: a
"amargura" e as "fofocas". "A pessoa invejosa, a pessoa ciumenta, é uma pessoa
amarga. Ela não sabe cantar, não sabe elogiar, não sabe o que é alegria, está
sempre olhando para "o que o outro tem e eu não tenho". E isso a leva à
amargura, uma amargura que se espalha por toda a comunidade".
Pessoas assim "são semeadoras de amargura. Um não tolera que o outro tenha
alguma coisa.
A “solução”, para elas, é rebaixar o outro, “para que eu fique um pouco mais
alto”. E a ferramenta para isso é a fofoca. “Olhem bem e vocês vão ver que por
trás da fofoca sempre existe ciúme e inveja”.
As fofocas "são as armas do diabo", reiterou o bispo de Roma: "Quantas belas
comunidades cristãs foram destruídas pelo ressentimento e pelas fofocas que
entraram na alma de um único membro da comunidade! Não é exagero: uma pessoa que
está sob a influência da inveja e do ciúme mata", disse o papa. E o apóstolo
João também diz: "Todo aquele que odeia o seu irmão é um assassino", e "o
invejoso, o ciumento, começa a odiar o seu irmão".
"Rezemos pelas nossas comunidades cristãs, para que essa semente da inveja
não seja semeada entre nós, para que a inveja não tenha espaço em nosso coração,
no coração das nossas comunidades, e para podermos seguir em frente no louvor ao
Senhor, louvando o Senhor com alegria. É uma grande graça, a graça de não cair
na tristeza, no ressentimento, na inveja e no ciúme".
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