Já é do nosso conhecimento que o Papa Francisco publicou sua primeira Carta Encíclica – Lumen Fidei (A Luz da Fé). Em mensagens passadas já abordamos os dois primeiros capítulos, em que o Papa afirma que Deus nos amou antes e que a fé, como resposta humana, realiza o encontro desejado pelo Deus vivo e fiel, sobre o qual podemos construir solidamente uma nova vida. Jesus encarnado torna-se o sim definitivo das promessas de Deus; com sua morte e ressurreição realiza a plenitude da fidelidade de Deus e a suprema manifestação do seu amor por nós. Esse amor de Deus suscita constantemente em nós a resposta da fé que não só faz olhar para Jesus, mas a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos.
No segundo capítulo o Papa Francisco acentua, sobretudo, que a pessoa humana, na questão da fé, precisa do conhecimento da verdade objetiva (fé na presença do Deus vivo e fiel), porque sem ela não subsiste aquele que está sujeito às instabilidades da vida. Assim, o amor precisa estar fundado na verdade para ser duradouro; caso contrário, ele estará sujeito à alteração dos sentimentos e não supera a prova do tempo.
No capítulo terceiro o Pontífice evidencia que não se pode crer sozinho. Esse dom não pode ser guardado para si mesmo; realiza-se na comunhão eclesial (LF 37-39). Ele precisa ecoar para os outros, convidando-os para a mesma alegria que brota da fé. É como a Luz de Cristo que reflete em nós, qual espelho, passando de geração em geração: “É através de uma cadeia ininterrupta de testemunhos que nos chega o rosto de Jesus” (LF 38). E aqui entra a memória e a comunhão da Igreja através dos tempos: “O Amor, que é o Espírito e que habita na Igreja, mantém unidos entre si todos os tempos e faz-nos contemporâneos de Jesus, tornando-Se assim o guia do nosso caminho na fé” (LF 38). É necessária a harmonia entre o creio pessoal e ocremos eclesial. Como já vimos anteriormente, não se trata de mera transmissão doutrinal: “Aquilo que se comunica na Igreja, o que se transmite na sua Tradição viva é a luz nova que nasce do encontro com o Deus vivo, uma luz que toca a pessoa no seu íntimo, no coração, envolvendo a sua mente, vontade e afetividade, abrindo-a para relações vivas na comunhão com Deus e com os outros” (LF 40). Para comunicar essa riqueza a Igreja tem como meio especial os sacramentos da fé, através dos quais ela não expressa tanto um conjunto de verdades abstratas, mas deseja, sobretudo, a comunhão com o Deus Vivo: deixar-nos transformar pelo que professamos pela fé celebrada. Assim, no Batismo, tornamo-nos filhos e herdeiros, participantes da natureza divina, modificando todas as nossas relações (LF 42 e 45); na Eucaristia vivemos o hodie (hoje eterno) do mistério pascal (LF 44). Na transmissão fiel da vida e missão da Igreja, além dos Sacramentos e do Símbolo da Fé, como um caminho a percorrer, aberto pelo encontro com o Deus vivo, ganha importância particular a oração do Pai Nosso e o Decálogo (Dez Mandamentos). O primeiro ensina a partilhar a experiência filial com Jesus Cristo e os irmãos na relação com o Pai; enquanto o Decálogo apresenta um caminho positivo de encontro com um Deus de diálogo e cheio de misericórdia: “O Decálogo não é um conjunto de preceitos negativos, mas de indicações concretas para sair do deserto do ‘eu’ auto-referencial, fechado em si mesmo, e entrar em diálogo com Deus, deixando-se abraçar pela sua misericórdia a fim de a irradiar... O Decálogo aparece como o caminho da gratidão, da resposta de amor, que é possível porque, na fé, nos abrimos à experiência do amor de Deus que nos transforma”.(LF 46). Que o Ano da Fé nos ajude a transformar-nos em Igreja viva e missionária. Bênção para todos!
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana
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