segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O CARÁTER COMUNITÁRIO E ECLESIAL DA LITURGIA


 
Caros diocesanos. Em 2013 já tentamos refletir diversos temas relacionados com a Liturgia. Percebemos que a Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, primeiro documento do Concílio Vaticano II, cujo cinqüentenário nós estamos celebrando, possibilitou um novo espírito litúrgico, centralizado no Mistério pascal de Cristo, essência e pedra angular da Liturgia, a qual é “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10). Assim supera-se a visão exterior, separada e utilitarista da Liturgia para torná-la fonte primordial da espiritualidade cristã.
Hoje queremos destacar uma das principais características de toda ação litúrgica: seu caráter comunitário e eclesial. Nós fazemos parte de um povo sacerdotal, desde o nosso Batismo. Celebramos como Igreja e com a Igreja, sacramento da unidade (SC 26-27). É por isso que nós formamos assembléia (comunidade) quando celebramos. A oração individual também é importante, mas ela não pode substituir ou perder o caráter eclesial. O individualismo devocional deve ceder lugar à assembléia litúrgica, a qual recebe importância particular, como povo sacerdotal, povo celebrante, também sujeito da celebração. Por isso a CNBB afirma: “Convocada por Deus, a assembléia litúrgica, expressão sacramental da Igreja, unida a Jesus Cristo, é sujeito da celebração” (AVLB, n.54).
Esta vitalidade eclesial e comunitária da liturgia se estende para toda vida do Povo de Deus, pois está fundamentada 
em Jesus Cristo que nos conduz ao seio da Trindade, a comunidade perfeita, e ao encontro dos irmãos e das irmãs. Assim nossa unidade sobrevive à medida que estiver relacionada com o seguimento de Jesus Cristo. A união com Ele não se fecha sobre si mesma, mas abre-se a todos. Quem exclui não é católico (= universal) e nem está alimentado pelo genuíno espírito cristão. Portanto, o centro e o motivo de todo grupo eclesial (comunidades, pastorais, movimentos, serviços, associações...) têm que ser necessariamente o Senhor e não o próprio grupo. Toda tentativa de promoção pessoal ou de grupo, à custa de Deus ou dos outros, contamina o espírito comunitário e não traz bênçãos. Fazer o bem em seu próprio nome, não em nome de Jesus, é escravizar o outro, é usá-lo para si mesmo, com falsa fachada de filantropia (amor ao ser humano). Por isso, o verdadeiro discípulo missionário de Jesus deixa de agir no próprio nome, seja pessoal, seja coletivo. Unido a Jesus, age nEle e com Ele, realizando sempre a obra de Jesus, disposto a renunciar a tudo aquilo que pode atrapalhar, num processo constante de conversão pessoal e pastoral, como afirma o Documento de Aparecida (DAp 368).
O contexto anterior conduz também à dimensão social da liturgia. Toda celebração litúrgica tem uma dimensão de compromisso comunitária e social. Uma das dimensões da Liturgia é celebrar a vida e tudo o que ela significa, para nós e para os outros. É por isso que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010) orientam: “Uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à luta para vencer a injustiça é um contra-testemunho e celebra indignamente a própria liturgia” (n. 178). Atos dos Apóstolos lembra que a comunhão superava as diferenças sociais: “Entre eles ninguém passava necessidade” (At 4, 24).
Senhor, ajuda-nos a tornar nossas celebrações litúrgicas e ações de vida sempre mais comunitárias e eclesiais, longe de serem expressões egoístas, fechadas aos nossos irmãos.

Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana


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