terça-feira, 9 de julho de 2013

A SOLIDARIEDADE HUMANA

 Já tivemos oportunidade de lembrar em outras ocasiões que a solidariedade faz parte das manifestações mais lindas e nobres da pessoa humana, como soe acontecer entre nosso povo, na Campanha da Fraternidade ou em outras oportunidades, seja em nível municipal, estadual, nacional e até internacional. Por exemplo, nos meses de inverno costuma-se realizar campanhas do agasalho para que outros não sofram por causa do frio ou, ao menos, possam amenizá-lo. Em Uruguaiana, as pessoas foram convidadas para aquecer um lar, dando atenção louvável ao aspecto familiar. A Campanha tem como lema “Neste inverno aqueça um lar”, e como símbolo uma família de joão-de-barro. Neste sentido o Documento de Aparecida lembra: “As condições de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor, contradizem o projeto do Pai e desafiam os cristãos a maior compromisso a favor da cultura da vida” (DAp 358). Os gestos de solidariedade são maravilhosos, pois, além de ajudarem nossos irmãos necessitados, nos conscientizam de nosso compromisso de participação na transformação de sua vida para que ela seja mais digna.

Em fins de maio e início de junho passado tivemos, em nossa diocese, agradável visita de sacerdote e diácono permanente, ambos vindos da Alemanha. Seu principal objetivo era alimentar o que eles chamam de Partnerschaft, ou seja, parceria; onde cada lado quer aprender do outro e ajudar-se mutuamente, em espírito de Igreja. O Pe Klaus Rapp sempre lembra que o coração de Deus que bate no seu país é o mesmo que bate em nosso e que nós somos convidados a abrir caminhos para que Ele possa chegar a nós com seu amor e nos unir na mesma família. Num encontro com os catadores de lixo e seus filhos ele dizia que as crianças de escolas infantis de seu país tinham mandado lembranças e pequenos sinais de solidariedade para eles. Mas o que mais nos comoveu foi o gesto de um menino de primeira comunhão, de nome Leonard, o qual, ao saber que o diácono Bernhard Kohl iria ao Brasil e encontraria crianças pobres, tomou a iniciativa de reunir seus brinquedos na calçada, em frente à sua casa, e colocá-los à venda aos transeuntes, a fim de poder ajudar nossas crianças, mais necessitadas do que ele. O resultado de sua criatividade foi surpreendente. Mais do que ter a alegria de entregar vários Euros para serem partilhados com outras crianças mais pobres, ele, com nove anos, nos deu testemunho claro sobre o que Jesus quis ensinar com o Mandamento do Amor. Ele verdadeiramente entendeu o que é comungar Jesus e seus irmãos. Obrigado, Leonard, pelo teu exemplo sobre o que é amar os outros. Continuando a aprendizagem mútua, chegou a vez de nossos catadores presentearam, com material reciclado, os visitantes, oferecendo a eles pequena e simpática imagem (em metal) de nossa Senhora Aparecida, colada a um portal da Ponte internacional, também de metal. Segundo os emocionados visitantes, esse símbolo com a Padroeira do Brasil e o portal vai parar numa igreja da Alemanha, recebendo todas as honras, qual imagem apanhada, não por rede de pescadores no Rio Paraíba - Aparecida, mas por catadores de lixo, em meio à sua “pesca milagrosa”, tentando sobreviver, com os “peixes” apanhados no lixão.Que Deus abençoe e recompense todas as pessoas de boa vontade que ajudam com espírito de solidariedade e lutam por dignidade para nossos irmãos mais sofridos, seja em nossas comunidades eclesiais, cidades e municípios ou até no exterior, como fez Leonard e tantos outros que partilham com o mesmo espírito, já por muitos anos. Essa solidariedade ensine a pescar, mais que dar o peixe pronto – Hilfe zu selbst Hilfe (= Ajuda para auto-ajuda), como dizem os alemães. Esses são sinais de uma Igreja ou sociedade viva, pois nela se manifesta o Deus da Vida.Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

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