segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Acolhamos as surpresas de Deus



Francisco na homilia reflete sobre a liberdade e a obediência cristã que é docilidade à Palavra de Deus
Por Redacao

ROMA, 20 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) - O papa Francisco disse na homilia desta segunda-feira em Santa Marta que a liberdade cristã está na “docilidade à Palavra de Deus”. Por isso, o Santo Padre destacou que devemos estar sempre preparados para acolher a “novidade” do Evangelho e as “surpresas de Deus”. Francisco falou durante a homilia sobre a Palavra de Deus que é viva e eficaz, discerne os sentimentos e os pensamentos do coração.
E para acolher verdadeiramente a Palavra de Deus, o Papa exortou a ter uma atitude de “docilidade”. A Palavra de Deus – insistiu – é viva e por isso vem e fala o que quer dizer: não o que eu espero que diga ou o que eu gostaria que dissesse. Dessa mesma forma destacou que é uma Palavra livre e também uma surpresa porque “nosso Deus é um Deus das surpresas”.
Assim explicou o Papa: “o Evangelho é novidade. A Revelação é novidade. Nosso Deus é um Deus que sempre faz as coisas novas e nos pede esta docilidade à sua novidade. No Evangelho Jesus é claro nisso, é muito claro: vinho novo em odres novos. O vinho o tem Deus, mas deve ser recebido com esta abertura à novidade. E isso se chama docilidade. Nós podemos perguntar-nos: eu sou uma pessoa dócil à Palavra de Deus? Faço passar a Palavra de Deus por um alambique e no final é outra coisa com relação ao que Deus quer fazer?”. Se faço isso – continuou – “termino como o pedaço de pano novo em um vestido velho, e deixa o rasgão pior”.
O Santo Padre explicou depois que “quando eu quero captar eletricidade de uma fonte elétrica, se o aparelho que tenho não funciona, procuro um adaptador. Nós temos que procurar sempre adaptar-nos, adequar-nos a esta novidade da Palavra de Deus, estar abertos à novidade. Saul, escolhido por Deus, ungido por Deus, tinha esquecido que Deus é surpresa e novidade. Tinha se esquecido, tinha se fechado em seus pensamentos, em seus esquemas, e assim tinha raciocinado humanamente”.
O Pontífice deteve-se na Primeira Leitura para comentar que em tempos de Saul, quando se ganhava uma batalha levava-se os despojos e como parte realizava o sacrifício. “Estes animais tão bonitos serão para o Senhor”, disse. Também explicou que Saul “raciocinou com o seu pensamento, com o seu coração, fechado nos costumes, enquanto que “nosso Deus não é um Deus de costumes: é um Deus de surpresas”.
Francisco destacou que Saul "não obedeceu a Palavra de Deus, não foi dócil à Palavra de Deus”. E Samuel repreende-lhe por isso, “diz para ele que não obedeceu, que não foi servo, foi senhor, ele. Apropriou-se da Palavra de Deus”. Por esta razão, “a rebelião, não obedecer a Palavra de Deus é pecado de adivinhação”, destacou o Papa. Ao mesmo tempo acrescentou que “a teimosia, a não docilidade para fazer o que você quer e não o que Deus quer é pecado de idolatria". Isto - continuou o Papa Francisco - "nos faz pensar" sobre que "o que é a liberdade cristã, o que é a obediência cristã".
Para terminar o Pontífice argentino lembrou que "a liberdade cristã e a obediência cristã são docilidade à Palavra de Deus, e ter essa coragem de converter-se em odres novos, para este vinho novo que vem continuamente.  Esta coragem de discernir sempre: discernir, digo, não relativizar. Discernir sempre o que faz o Espírito no meu coração, o que quer o Espírito no meu coração, onde me leva o Espírito no meu coração. E obedecer. Discernir e obedecer. Peçamos hoje a graça da docilidade à Palavra de Deus, a esta Palavra de Deus, e esta Palavra que é viva e eficaz, que discerne os sentimentos e os pensamentos do coração”.
Texto traduzido e adaptado da Rádio Vaticano por Rocío García Lancho. Tradução ao português de Thácio Siqueira

Um cristão não afasta a Palavra de Deus para seguir a moda




Papa em Sta. Marta:
Francisco recorda que a normalidade da vida exige do cristão fidelidade à sua eleição
Por Redacao

ROMA,  Janeiro de 2014 (Zenit.org) - O dom de ser filho de Deus não pode ser “vendido” por um mal entendido sentido de “normalidade”, que induz a esquecer sua Palavra e a viver como se Deus não existisse. Esta foi a reflexão do Papa durante a homilia desta manhã, na capela da Casa Santa Marta.
A tentação de querer ser “normal”, quando se é filho de Deus, na verdade, quer dizer, ignorar a Palavra do Pai e seguir apenas a humana, “a palavra do próprio querer”, escolhendo “vender” o dom da predileção para submergir-se em uma “uniformidade humana”.
O povo judeu do Antigo Testamento sofreu, mais de uma vez, essa tentação. Recordou Francisco detendo-se na leitura do Primeiro Livro de Samuel.
Os chefes do povo pedem a Samuel, já velho, para estabelecer um novo rei, na tentativa de autogovernarem-se. Neste momento, afirmou o Papa, “o povo rejeitou Deus: não apenas não escuta a Palavra de Deus, mas rejeita”. E a frase reveladora deste distanciamento, destacou Francisco, é a proferida pelos anciãos de Israel: “queremos um Deus juiz”, porque assim “seremos iguais aos outros povos”.
Deste modo, disse o Papa, “rejeitam o Senhor do Amor, rejeitam a eleição e buscam o caminho da mundanidade”, de maneira análoga a tantos cristãos contemporâneos: “a normalidade da vida exige do cristão fidelidade à sua eleição e a não vendê-la para andar em direção a uma uniformidade mundana. Esta é a tentação do povo e também a nossa. Muitas vezes, “esquecemos a Palavra de Deus, o que nos diz o Senhor, e pegamos a palavra da moda. Não é? A da telenovela também está na moda, podemos pegar. É mais divertida!”
A apostasia é exatamente o pecado de ruptura com o Senhor, mas é clara: se vê. Isso é mais perigoso, a mundanidade, porque é mais sutil. “É verdade que o cristão deve ser normal, como normais são as pessoas”, reconheceu Francisco, “mas existem valores que o cristão não pode tomar por si. O cristão deve manter-se na Palavra de Deus, que diz: “tu es meu filho, tu es meu escolhido, eu estou contigo, eu caminho contigo”..
Resistir à tentação, como na passagem bíblica, de considerar-se vítima de um certo “complexo de inferioridade”, de não se sentir um “povo normal”.
O Papa Francisco destacou ainda que “a tentação vem e endurece o coração e quando o coração é duro, quando o coração não é aberto, a Palavra de Deus não pode entrar. Jesus dizia aos discípulos de Emaús: “insensatos e lentos de coração! Tinham o coração duro, não podiam perceber a Palavra de Deus. E a mundanidade amolece o coração, mas erroneamente: nunca é coisa boa um coração mole! O bom é o coração aberto à Palavra de Deus, que a recebe. Como a Virgem, que meditava todas as coisas em seu coração, diz o Evangelho. Receber a Palavra de Deus para não nos distanciarmos da eleição”.
Por fim, Francisco pediu a Deus a graça para superar os nossos egoísmos: o egoísmo de querer fazer o meu, como eu quero: “Peçamos a graça de superá-los e peçamos a graça da docilidade espiritual, ou seja, de abrir o coração à Palavra de Deus e não fazer como fizeram aqueles nossos irmãos, que fecharam o coração porque se afastaram de Deus e há muito tempo não sentiam e não percebiam a Palavra de Deus. O Senhor nos dê a graça de um coração aberto para receber a Palavra de Deus e para meditá-la sempre. E dali tomar o verdadeiro caminho.”
(Trad.:MEM)

domingo, 19 de janeiro de 2014

Nas trevas do conflito sírio, uma freira ajuda a vislumbrar a luz



Irmã Agnes Mariam de la Croix, fundadora do movimento Mussalaha, é indicada para o Prêmio Nobel da Paz
Por Naman Tarcha

ROMA, 16 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) - "Mussalaha", "Reconciliação": este é o nome do movimento que conclama o mundo a dar fim à guerra na Síria e a silenciar o estrondo das armas. O movimento "Reconciliação" trabalha por uma verdadeira paz através da mediação entre as partes de um conflito que já dura três anos e cuja vítima real é só o povo sírio.
O coração desse movimento é uma freira: Agnes Mariam de la Croix.
"Num momento em que o mundo precisa desesperadamente de uma solução pacífica para acabar com o derramamento de sangue na Síria, esta iniciativa se destaca como um farol, cuja luz alimenta a esperança que vem de dentro da sociedade síria e expressa o desejo da maioria das pessoas de trilhar o caminho da paz". Estas palavras são de Mairead Maguire, pacifista britânica e co-fundadora da Comunidade de Pessoas de Paz (Community of Peace People). Prêmio Nobel da Paz em 1976, ela propôs, em carta ao Instituto Nobel, que o reconhecimento seja concedido neste ano à Irmã Agnes.
A freira nasceu como Fadia Laham, de pai palestino e mãe libanesa, mas diz que se sente totalmente síria. Passou a juventude em Beirute. Ao decidir consagrar a vida a Deus, entrou no convento e depois fundou o Mosteiro de Mor Yacoub na região de Qalamoun, na Síria, onde vive há 20 anos.
A verdade e a justiça não podem deixar de impactar a consciência humana, muito menos para uma pessoa que escolheu dedicar a vida ao serviço dos últimos entre os seres humanos. Por trás de um sorriso sereno, os olhos da irmã Agnes revelam a dor que ela tem visto e vivido junto com as pessoas inocentes que conheceu em sua missão.
Quando o conflito sírio estava apenas começando, a irmã escreveu uma carta a uma associação humanitária francesa falando da guerra midiática e da desinformação contra o seu país, contando com coragem o que realmente estava acontecendo. Por causa dessa carta, os grupos rivais lançaram críticas e acusações contra ela.
Mas a Irmã Agnes não se abateu: decidiu continuar com mais coragem ainda a luta contra a desinformação, e, graças à sua contribuição, chegou à Síria a primeira delegação de jornalistas estrangeiros, apesar do total encerramento do governo sírio, temeroso de possíveis infiltrações de espiões internacionais.
A religiosa convenceu as autoridades (a quem fez críticas oportunas em várias ocasiões) da necessidade de dizer a verdade de maneira neutra e independente, denunciando os massacres e crimes cometidos pelos grupos terroristas formados por jihadistas estrangeiros que chegaram ao país para fazer “guerra santa”. Não se trata, portanto, de um levante popular: há grupos organizados que criam manifestações pontuais e tentam, através da violência, provocar conflitos sectários e divisões étnicas e religiosas.
A estrada a percorrer é difícil. As críticas chovem de todos os lados sobre a Irmã Agnes, até mesmo de grupos que se dizem pacifistas ao mesmo tempo em que pedem intervenção militar na Síria. Alguns a acusam de apoiar o governo sírio, quando, na verdade, a freira denuncia os crimes dos rebeldes e desmascara as falsas notícias.
"Eu não faço política: o meu compromisso é puramente humanitário", disse ela em mais de uma ocasião. Suas palavras não são vazias. Apesar dos ataques ferozes de movimentos próximos à oposição síria e de simpatizantes dos rebeldes sírios, seu papel foi decisivo nas áreas de maior conflito, onde, muitas vezes, conseguiu encaminhar o compromisso entre os combatentes e o governo. Tudo graças à rede de voluntários do movimento Mussalaha, que salvou muitos civis e reabriu os canais do diálogo e da reconciliação.
Isto possibilitou que a Irmã Agnes evacuasse famílias, protegesse mulheres e crianças e não agisse como espectadora, mas permanecesse na vanguarda entre as pessoas e nos lugares de alto risco. A freira é implacável e continua a percorrer o mundo como porta-voz de civis inocentes: já recolheu muita ajuda durante as suas viagens à Europa e à Austrália, conseguindo, entre outras coisas, criar um hospital itinerante e juntar grandes quantidades de medicamentos e itens de necessidade básica.
Enquanto o mundo espera que as partes em conflito se sentem à mesa de negociações em Genebra, uma freira tenaz está salvando muitas vidas todos os dias, abrindo uma janela de esperança no meio do massacre, mediante o diálogo e a reconciliação.
* Naman Tarcha é jornalista e apresentador de televisão. Sírio de Aleppo, graduado em Comunicação pela Pontifícia Universidade Salesiana de Roma, vive e trabalha na Itália há anos. É pesquisador e especialista em mídia e cultura árabe.

Vocações, testemunho da verdade

Vocações, testemunho da verdade
Mensagem do Papa para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações


Amados irmãos e irmãs!
1. Narra o Evangelho que «Jesus percorria as cidades e as aldeias (...). Contemplando a multidão, encheu-Se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe"» (Mt 9, 35-38). Estas palavras causam-nos surpresa, porque todos sabemos que, primeiro, é preciso lavrar, semear e cultivar, para depois, no tempo devido, se poder ceifar uma messe grande. Jesus, ao invés, afirma que «a messe é grande». Quem trabalhou para que houvesse tal resultado? A resposta é uma só: Deus. Evidentemente, o campo de que fala Jesus é a humanidade, somos nós. E a acção eficaz, que é causa de «muito fruto», deve-se à graça de Deus, à comunhão com Ele (cf. Jo 15, 5). Assim a oração, que Jesus pede à Igreja, relaciona-se com o pedido de aumentar o número daqueles que estão ao serviço do seu Reino. São Paulo, que foi um destes «colaboradores de Deus», trabalhou incansavelmente pela causa do Evangelho e da Igreja. Com a consciência de quem experimentou, pessoalmente, como a vontade salvífica de Deus é imperscrutável e como a iniciativa da graça está na origem de toda a vocação, o Apóstolo recorda aos cristãos de Corinto: «Vós sois o seu [de Deus] terreno de cultivo» (1 Cor 3, 9). Por isso, do íntimo do nosso coração, brota, primeiro, a admiração por uma messe grande que só Deus pode conceder; depois, a gratidão por um amor que sempre nos precede; e, por fim, a adoração pela obra realizada por Ele, que requer a nossa livre adesão para agir com Ele e por Ele.
2. Muitas vezes rezámos estas palavras do Salmista: «O Senhor é Deus; foi Ele quem nos criou e nós pertencemos-Lhe, somos o seu povo e as ovelhas do seu rebanho» (Sal 100/99, 3); ou então: «O Senhor escolheu para Si Jacob, e Israel, para seu domínio preferido» (Sal 135/134, 4). Nós somos «domínio» de Deus, não no sentido duma posse que torna escravos, mas dum vínculo forte que nos une a Deus e entre nós, segundo um pacto de aliança que permanece para sempre, «porque o seu amor é eterno!» (Sal 136/135, 1). Por exemplo, na narração da vocação do profeta Jeremias, Deus recorda que Ele vigia continuamente sobre a sua Palavra para que se cumpra em nós. A imagem adoptada é a do ramo da amendoeira, que é a primeira de todas as árvores a florescer, anunciando o renascimento da vida na Primavera (cf. Jr 1, 11-12). Tudo provém d’Ele e é dádiva sua: o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, mas – tranquiliza-nos o Apóstolo - «vós sois de Cristo e Cristo é de Deus» (1 Cor 3, 23). Aqui temos explicada a modalidade de pertença a Deus: através da relação única e pessoal com Jesus, que o Baptismo nos conferiu desde o início do nosso renascimento para a vida nova. Por conseguinte, é Cristo que nos interpela continuamente com a sua Palavra, pedindo para termos confiança n’Ele, amando-O «com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças» (Mc 12, 33). Embora na pluralidade das estradas, toda a vocação exige sempre um êxodo de si mesmo para centrar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho. Quer na vida conjugal, quer nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a vontade de Deus. É «um êxodo que nos leva por um caminho de adoração ao Senhor e de serviço a Ele nos irmãos e nas irmãs» (Discurso à União Internacional das Superioras Gerais, 8 de Maio de 2013). Por isso, todos somos chamados a adorar Cristo no íntimo dos nossos corações (cf. 1 Ped 3, 15), para nos deixarmos alcançar pelo impulso da graça contido na semente da Palavra, que deve crescer em nós e transformar-se em serviço concreto ao próximo. Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida. Ele nunca nos abandona! Tem a peito a realização do seu projecto sobre nós, mas pretende consegui-lo contando com a nossa adesão e a nossa colaboração.
3. Também hoje Jesus vive e caminha nas nossas realidades da vida ordinária, para Se aproximar de todos, a começar pelos últimos, e nos curar das nossas enfermidades e doenças. Dirijo-me agora àqueles que estão dispostos justamente a pôr-se à escuta da voz de Cristo, que ressoa na Igreja, para compreenderem qual possa ser a sua vocação. Convido-vos a ouvir e seguir Jesus, a deixar-vos transformar interiormente pelas suas palavras que «são espírito e são vida» (Jo 6, 63). Maria, Mãe de Jesus e nossa, repete também a nós: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Far-vos-á bem participar, confiadamente, num caminho comunitário que saiba despertar em vós e ao vosso redor as melhores energias. A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor uns aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, na experiência do amor fraterno. Porventura não disse Jesus que «por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35)?
4. Amados irmãos e irmãs, viver esta «medida alta da vida cristã ordinária» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31) significa, por vezes, ir contra a corrente e implica encontrar também obstáculos, fora e dentro de nós. O próprio Jesus nos adverte: muitas vezes a boa semente da Palavra de Deus é roubada pelo Maligno, bloqueada pelas tribulações, sufocada por preocupações e seduções mundanas (cf. Mt 13, 19-22). Todas estas dificuldades poder-nos-iam desanimar, fazendo-nos optar por caminhos aparentemente mais cómodos. Mas a verdadeira alegria dos chamados consiste em crer e experimentar que o Senhor é fiel e, com Ele, podemos caminhar, ser discípulos e testemunhas do amor de Deus, abrir o coração a grandes ideais, a coisas grandes. «Nós, cristãos, não somos escolhidos pelo Senhor para coisas pequenas; ide sempre mais além, rumo às coisas grandes. Jogai a vida por grandes ideais!» (Homilia na Missa para os crismandos, 28 de Abril de 2013). A vós, Bispos, sacerdotes, religiosos, comunidades e famílias cristãs, peço que orienteis a pastoral vocacional nesta direcção, acompanhando os jovens por percursos de santidade que, sendo pessoais, «exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja» (João Paulo II, Carta ap.Novo millennio ineunte, 31).
Disponhamos, pois, o nosso coração para que seja «boa terra» a fim de ouvir, acolher e viver a Palavra e, assim, dar fruto. Quanto mais soubermos unir-nos a Jesus pela oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais há-de crescer em nós a alegria de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com docilidade, acolher em nós. Com estes votos e pedindo-vos que rezeis por mim, de coração concedo a todos a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 15 de Janeiro de 2014
FRANCISCO

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O nome de Jesus




















João Batista, precursor do Salvador, parente de Jesus segundo a carne, amadureceu em seu processo de reconhecimento daquele que passou à sua frente, do qual reconhecia não ser digno de desamarrar as sandálias. O Evangelho de São João descreve com arte a cena (Jo 1,29-34) em que João o apresenta como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Não haveria modo mais adequado para expressar a identidade daquele que se achava diante de João. À margem do Jordão, enviado a batizar com água, João Batista tinha visto o Espírito pairar sobre Jesus. Mudou sua vida e o mundo mudou. Chegou aquele que as profecias haviam anunciado. Chegou aquele que virou as páginas da história da humanidade, pois tudo se conta pela sua vinda, antes de Cristo ou depois de Cristo. Veio a nós aquele que se chama Deus conosco, Emanuel, Deus salva! Ele é a luz das nações, para que a salvação chegue aos confins da terra (Cf. Is 49, 3.5-6).

A Liturgia da Igreja usa fórmulas bíblicas com as quais resume a fé cristã, de modo que a oração expressa as convicções profundas, que sustentam o testemunho a ser oferecido ao mundo. Dentre estas, chama atenção o início da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, correspondente a uma das saudações usadas no início da Santa Missa: “Paulo, chamado a ser apóstolo do Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Sóstenes, à igreja de Deus que está em Corinto: aos que foram santificados no Cristo Jesus, chamados a serem santos, junto com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1 Cor 1,1-3). A oração da Igreja começa no alto, vem de Deus, a quem cabe a iniciativa! É também do Apóstolo das Gentes o belíssimo hino da Carta aos Filipenses (Fl 2, 6-11), utilizado também com frequência na oração da Igreja, que assim se conclui: “Ao Nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai. E as orações litúrgicas, em sua maior parte, são feitas ao Pai, por Cristo e no Espírito Santo. Assim a Igreja nos ensina quem é caminho, verdade e vida. Em Jesus Cristo está a salvação, a vida e a liberdade. 

Aprendemos que a invocação do nome de Jesus traz consigo a graça e a salvação. Tive o grande consolo de muitas vezes, ao me deparar com pessoas que se encontravam à beira da morte, predispondo-as para a absolvição dos pecados, pronunciar ao ouvido delas “Meu Jesus, misericórdia”, ou dizer repetidamente o nome de Jesus, na certeza de que ali se encontrava a força necessária para o definitivo encontro com o Senhor, quando lhes era dada a possibilidade de abrir os olhos para as realidades definitivas, a fim de entrar na contemplação da face de Cristo, aquele que é porta para o Reino dos Céus.

São de grande inspiração bíblica as invocações feitas na Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus, com a qual a devoção da Igreja nos convida a nos voltarmos para o centro de nossa profissão de fé: Jesus Filho de Deus vivo, esplendor do Pai, pureza da luz eterna, Rei da glória, sol de justiça, Filho da Virgem Maria, amável, admirável, Deus forte, Pai do futuro século, Anjo do grande conselho, Poderosíssimo, Pacientíssimo, Obedientíssimo, Manso e Humilde de coração, Amante da castidade, Nosso amado, Deus da paz, Autor da vida, Exemplo das virtudes, Zelador das almas, Nosso Deus, Nosso Refúgio, Pai dos pobres, Tesouro dos fiéis, Bom Pastor, Verdadeira Luz, Sabedoria eterna, Bondade infinita, Nosso Caminho e Nossa Vida, Alegria dos Anjos, Rei dos Patriarcas, Mestre dos Apóstolos, Doutor dos evangelistas, Fortaleza dos Mártires, Luz dos Confessores, Pureza das Virgens, Coroa de todos os Santos.

É dele que nos vem a certeza de tudo o que é necessário à salvação, tanto que a mesma Ladainha suplica que Ele nos livre de todo mal, de todo o pecado, da ira de Deus, das ciladas do demônio, do espírito de impureza e do desprezo de suas inspirações. Continuamente nos voltamos ao Senhor, pedindo a liberdade plena, pelo mistério de sua Encarnação, pela sua Natividade, pela Infância de Jesus, pela sua Vida nesta terra, pelos seus Trabalhos, pela sua Agonia e Paixão, pela Cruz e Desamparo, pelas Angústias passadas, pela Morte, Sepultura e Ressurreição, pela Ascensão, suas Alegrias e sua Glória.

As Ladainhas são manifestações de amor e piedade, com as quais repetimos invocações que percorrem diversos aspectos do mesmo mistério. Os refrões que nos conduzem a dizer “tende piedade de nós” ou “livrai-nos, Senhor” conduzem nossa piedade ao centro da fé professada, tanto que todas as ladainhas da Igreja se concluem com a invocação que ecoa a apresentação feita por São João Batista, chamando-o “Cordeiro de Deus”, diante do qual dizemos “livrai-nos, Senhor”, “ouvi-nos, Senhor” e “tende piedade de nós”.

Há poucos dias, celebrando a Santa Missa na “Igreja de Jesus”, no Dia do Santíssimo Nome de Jesus, assim se expressou o Papa Francisco: “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus: Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-se a si mesmo, tomando a condição de servo” (Fl 2, 5-7). O que o Papa disse aos jesuítas, peço licença para tomar posse dos mesmos desejos, pois correspondem ao seguimento de Jesus da parte de todos os que pronunciam o seu Santo Nome: “Queremos ser distinguidos com o nome de Jesus, militar sob a insígnia da sua Cruz, e isto significa: ter os mesmos sentimentos de Cristo. Significa pensar como Ele. Significa fazer o que ele fez e com os seus mesmos sentimentos, com os sentimentos do seu Coração. O coração de Cristo é o coração de um Deus que, por amor, se despojou. Quem segue a Jesus, deveria estar disposto a despojar-se de si mesmo. Somos chamados a este abaixamento: ser «despojados», pessoas que não vivem concentradas em si mesmas porque o centro de suas vidas é Cristo e a sua Igreja.

Dom Alberto Taveira Corrêa
via internet

INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

. Iniciamos o Ano do Senhor de 2014. Que ele seja abençoado para todos nós. A Diocese de Uruguaiana, como em diversas outras Igrejas particulares do Rio Grande do Sul e do país, seguindo o espírito do Documento de Aparecida e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015, assume como prioridade ou tema pastoral do ano: A Iniciação à Vida Cristã. Por isso, entre as primeiras mensagens do novo ano, queremos abordar este assunto. Ao contemplarmos a nossa vida cristã, percebemos que há duas importantes fases, enquanto vivemos neste mundo: a Iniciação à Vida Cristã e a Vida Cristã Permanente. A primeira fase contempla todo processo de conhecimento e encontro com Jesus Cristo e de inserção na comunidade cristã. Ela contempla três sacramentos que formam unidade: batismo, eucaristia e crisma (confirmação). Nos primórdios do cristianismo, quando a iniciação acontecia normalmente com adultos, estes três sacramentos eram recebidos numa mesma celebração, na Vigília Pascal, depois de longo processo de preparação, chamado catequese catecumenal (para os que se preparam para serem batizados). A restauração do catecumenato, atualizado aos nossos tempos, deseja retomar a dimensão mística e celebrativa da catequese dos primeiros séculos, a fim de que os iniciantes possam fazer uma autêntica experiência cristã (IVC 59). É um processo gradual ou itinerário catequético que inicia as pessoas no mistério de Cristo (experiência da união com Deus) e ajuda a amadurecer na fé e comunhão da Igreja. O Documento de Aparecida afirma: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DAp 287). Conceber a catequese como iniciação à vida cristã implica em assumi-la como um longo processo vital de introdução dos ainda não iniciados, independente da sua idade, nos diversos aspectos da vida cristã. Na verdade, os Catecúmenos começam a caminhada para Deus, rumo à maturidade em Cristo. A catequese de iniciação à vida cristã nunca pode ser considerada completa ou concluída, com caráter de formatura cristã para o resto da vida. Os cristãos sentem necessidade de uma catequese permanente (IVC 66-69), não somente ocasional para a recepção dos sacramentos. É o espírito da Nova Evangelização, que usa a linguagem de “Igreja em estado de missão permanente” (DGAE – 2011-2015, n. 85).
            Por isso podemos falar numa segunda fase: Vida Cristã Permanente. Se hoje o sacramento da Crisma, de certa forma, conclui a Iniciação à Vida Cristã, ao mesmo tempo inicia a fase permanente, que continua o amadurecimento da fé por toda vida, com definição vocacional e inserção gradativa na vida e missão da comunidade cristã (IVC 121). Por isso, a Iniciação à Vida Cristã deve acontecer não apenas uma vez na vida das pessoas. A adesão a Jesus Cristo deve ser “refeita, fortalecida e ratificada tantas vezes quantos o cotidiano exigir... Nossas comunidades precisam ser comunidades diuturnamente mistagógicas, preparadas para permitir que o encontro com Jesus Cristo se faça e se refaça permanentemente” (DGAE 2011-2015, n. 41). Trata-se de uma catequese não ocasional (só para sacramentos), mas permanente (DGAE 2011-22015, n. 85), aberta para todas as idades e situações da vida.
          Que o ano de 2014 seja de Iniciação à Vida Cristã para muitas pessoas de nossa Diocese e de continuação e aprofundamento para os já iniciados há mais tempo, e que sentem necessidade de constante aprofundamento na fé cristã. Todos são bem-vindos para aprofundar seu encontro com Jesus Cristo e integrar-se sempre mais na comunidade de fé!
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Uruguaiana

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A dimensão comunitária não é só uma moldura, mas é parte integrante da vida cristã



Audiência Geral: Papa Francisco continua a reflexão sobre o Batismo

CIDADE DO VATICANO, 15 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) - Nesta quarta-feira, 15 de janeiro, o Papa Francisco dando continuidade à reflexão sobre o Batismo, reuniu-se com os fiéis e peregrinos, na Praça São Pedro, para a tradicional audiência geral.
Eis o texto na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia.
Quarta-feira passada iniciamos um breve ciclo de catequeses sobre os Sacramentos, começando pelo Batismo. E sobre o Batismo gostaria de concentrar-me ainda hoje, para destacar um fruto muito importante deste Sacramento: esse nos torna membros do Corpo de Cristo e do Povo de Deus. São Tomás de Aquino afirma que quem recebe o Batismo é incorporado a Cristo quase como seu próprio membro e é agregado à comunidade dos fiéis (cfr Summa Theologiae, III, q. 69, art. 5; q. 70, art. 1), isso é, ao Povo de Deus. Na escola do Concílio Vaticano II, nós dizemos hoje que o Batismo nos faz entrar no Povo de Deus, nos torna membros de um Povo em caminho, um Povo peregrino na história.
De fato, como de geração em geração se transmite a vida, assim também de geração em geração, através do renascimento na fonte batismal, transmite-se a graça, e com esta graça o Povo cristão caminha no tempo, como um rio que irriga a terra e difunde no mundo a benção de Deus. Do momento em que Jesus disse o que escutamos no Evangelho, os discípulos foram batizar; e daquele tempo até hoje há uma sequência na transmissão da fé mediante o Batismo. E cada um de nós é um elo dessa sequência: um passo adiante, sempre; como um rio que irriga. Assim é a graça de Deus e assim é a nossa fé, que devemos transmitir aos nossos filhos, transmitir às crianças, para que essas, uma vez adultas, possam transmiti-la a seus filhos. Assim é o Batismo. Por que? Porque o Batismo nos faz entrar neste Povo de Deus que transmite a fé. Isto é muito importante. Um Povo de Deus que caminha e transmite a fé.
Em virtude do Batismo, nós nos tornamos discípulos missionários, chamados a levar o Evangelho no mundo (cfr Exort. ap. Evangelii gaudium, 120). “Cada batizado, qualquer que seja a sua função na Igreja e o grau de instrução da sua fé é um sujeito ativo de evangelização… A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo” (ibid) de todos, de todos o povo de Deus, um novo protagonismo de cada um dos batizados. O Povo de Deus é um Povo discípulo – porque recebe a fé – e missionário – porque transmite a fé. E isto faz o Batismo em nós. Doa-nos a Graça e transmite a fé. Todos na Igreja somos discípulos, e o somos sempre, para toda a vida; e todos somos missionários, cada um no lugar que o Senhor lhes atribuiu. Todos: o menor é também missionário; e aquele que parece maior é discípulo. Mas alguém de vocês vai dizer: “Os bispos não são discípulos, os bispos sabem tudo; o Papa sabe tudo, não é discípulo”. Não, mesmos os bispos e o Papa devem ser discípulos, porque se não são discípulos não fazem o bem, não podem ser missionários, não podem transmitir a fé. Todos somos discípulos e missionários.
Existe uma ligação indissolúvel entre a dimensão mística e aquela missionária da vocação cristã, ambas enraizadas no Batismo. “Recebendo a fé e o Batismo, nós cristãos acolhemos a ação do Espírito Santo que conduz a confessar Jesus Cristo como Filho de Deus e a chamar Deus ‘Abba’, Pai. Todos os batizados e as batizadas…somos chamados a viver e transmitir a comunhão com a Trindade, porque a evangelização é um apelo à participação na comunhão trinitária” (Documento final de Aparecida, n. 157)..
Ninguém se salva sozinho. Somos comunidade de crentes, somos Povo de Deus e nesta comunidade experimentamos a beleza de partilhar a experiência de um amor que precede a todos, mas que ao mesmo tempo nos pede para sermos “canais” da graça uns para os outros, apesar dos nossos limites e dos nossos pecados. A dimensão comunitária não é só uma “moldura”, um “contorno”, mas é parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização. A fé cristã nasce e vive na Igreja e no Batismo as famílias e as paróquias celebram a incorporação de um novo membro a Cristo e ao seu corpo que é a Igreja (cfr ibid.; n. 175b).
A propósito da importância do Batismo para o Povo de Deus, é exemplar a história da comunidade cristã do Japão. Essa sofreu uma dura perseguição no início do século XVII. Foram numerosos mártires, os membros do clero foram expulsos e milhares de fiéis foram mortos.  Não permaneceu no Japão nenhum padre, todos foram expulsos. Então a comunidade se retirou na clandestinidade, conservando a fé e a oração em reclusão. E quando nascia uma criança, o pai ou a mão a batizavam, porque todos os fiéis podem batizar em particulares circunstâncias. Quando, depois de dois séculos e meio, 250 anos depois, os missionários retornaram ao Japão, milhares de cristãos saíram da clandestinidade e a Igreja pôde reflorescer. Tinham sobrevivido com a graça de seu Batismo! Isto é grandioso: o Povo de Deus transmite a fé, batiza os seus filhos e segue adiante. E mantiveram, mesmo em segredo, um forte espírito comunitário, porque o Batismo os tornou um só corpo em Cristo: foram isolados e escondidos, mas foram sempre membros do Povo de Deus, membros da Igreja. Podemos aprender tanto com esta história! Obrigado.
(Trad.:Canção Nova)