Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará (PA)
Por convocação do Papa Francisco, a Igreja Católica celebra um Ano dedicado à Vida Consagrada, no qual voltamos os nossos olhos para os homens e mulheres que foram chamados pelo Senhor à radicalidade de vida dos chamados Conselhos Evangélicos da Pobreza, Castidade e Obediência, para serem sinais dos valores definitivos da Partilha, do Amor indiviso e da Oblação da liberdade por amor a Deus e ao próximo. Em nossas Igrejas Particulares, Arquidioceses, Dioceses e Prelazias, resplandecem luminosos os pontos de presença da vida religiosa consagrada. De forma especial na Amazônia, foi através de gerações de religiosos e religiosas que a vida de Igreja se organizou e se consolidou. No dia da Apresentação do Senhor, em torno do Papa Francisco e pelo mundo todo, renova-se a consagração destas pessoas preciosas aos olhos de Deus e de todos os cristãos. Com velas acesas, simbolizando a entrega de suas vidas e o reconhecimento do grande sinal que representam, louvamos a Deus por estes irmãos e irmãs e pedimos o fortalecimento de suas disposições para o serviço do Reino de Deus.
Sabemos que a plenitude da vida acontecerá quando Deus for “tudo em todos” (Cf. 1 Cor 15, 28). A pessoa chamada à vida consagrada é “apressada”! Deseja viver, desde já, a realidade do Céu. Faz votos públicos de entrega de sua vida ao Senhor, plena liberdade. Basta ver a imensa lista de santos e santas, passando dos mais conhecidos, como São Francisco de Assis, Santo Antônio, São João Bosco e outros, até chegar aos que continuamente são apresentados à Igreja e ao mundo, nas beatificações e canonizações, como testemunhas qualificadas, que atestam a validade permanente do Evangelho. Há poucos dias, o Papa Francisco canonizou Padre José Vaz, um sacerdote religioso imbuído de grande espírito missionário e dedicação aos pobres.
Quando tantos põem sua segurança nas posses e a elas se apegam, os consagrados a Deus querem relativizar o ídolo do “ter” a qualquer custo, assumindo um estilo de vida simples e pobre, confiando-se à Providência de Deus. São homens e mulheres livres em relação às coisas, para ajudar a todos com a lição da partilha e da comunhão dos bens. Aceitam construir a própria vida e ajudar as pessoas a edificar a própria existência com os meios simples e pobres.
São pessoas que vivem “ao pé da letra” a recomendações de São Paulo proclamadas pela Liturgia da Igreja neste final de semana: “O homem não casado é solícito pelas coisas do Senhor e procura agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar à sua mulher e, assim, está dividido. Do mesmo modo, a mulher não casada e a jovem solteira têm zelo pelas coisas do Senhor e procuram ser santas de corpo e espírito. Mas a que se casou preocupa-se com as coisas do mundo e procura agradar ao seu marido” (1 Cor 7, 32-34). Tais pessoas olham para frente e para o alto e querem amar a todos, com os sentimentos do coração de Cristo. Renunciam a constituir uma família própria, para testemunhar a vida em comunidade e um amor efetivo a todos, sem reservas. Livres em relação aos afetos, para que reine o amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5).
Olhando para Cristo, que se fez obediente até a morte, e morte de Cruz (Cf. Fl 2, 6-8), oferecem a oblação da própria liberdade, prontos para ouvir a voz de Deus, que expressa sua santa vontade que liberta e salva a todos. São pessoas livres de si mesmas, pelo voto de obediência.
Estes são homens e mulheres que aceitaram serem sinais de Deus em todos os tempos. Em alguns casos, sua dedicação fundamental é a contemplação, como nos muitos mosteiros de várias ordens e congregações masculinas e femininas, verdadeiros para-raios de oração diuturna pela Igreja e pelo mundo. Outras pessoas estão presentes nas atividades pastorais, de forma ativa e dedicada, animando as Comunidades, formando catequistas, incentivando as vocações ou na animação bíblica de grupos e comunidades. Muitos religiosos e religiosas estão nas Escolas confessionais e públicas, apaixonados pela educação das novas gerações. Que dizer das pastorais sociais, como a Pastoral da Criança, da Saúde e outras áreas marcadas pelo testemunho que chega às raias do heroísmo. Em nosso país, tantos viveram tal testemunho até o derramamento do próprio sangue, mártires da verdade do Evangelho.
Onde encontram os religiosos e religiosas as forças necessárias à sua consagração? O fundamento de suas vidas está na escolha radical do seguimento de Jesus Cristo, em que reconheceram um “ensinamento novo, dado com autoridade” (Cf. Mc 1, 21-28). Decidiram ser discípulos missionários de Jesus. O Mestre descoberto os arrastou para estradas antes impensáveis! Abraçaram a causa do Evangelho, fazendo dela o ideal de sua existência, prontos a edificar uma nova família de irmãos, para serem sinais que atraem homens e mulheres de todas as idades.
O Ano da Vida Consagrada quer chegar, de forma especial, aos adolescentes e jovens, rapazes e moças, em tempo de opções vocacionais. Deus tem um olhar pessoal e intransferível para cada cristão, e este olhar tem o nome de vocação. Convido todos os jovens a se confrontarem com a Palavra de Deus que escutam na Santa Missa, descobrindo-a como dirigida especialmente a eles. Provoco com força e ternura tantos deles que experimentam no mais profundo do coração a inquietação, que os conduz a buscarem a liberdade das coisas, dos afetos e de si mesmos, para se lançarem na maravilhosa aventura do seguimento radical de Jesus Cristo.
Aos religiosos e religiosas e outras pessoas que se consagram na profissão dos Conselhos Evangélicos, chegue o estímulo à fidelidade crescente ao Senhor, no amor a Ele e a todos os homens e mulheres de todas as idades e situações sociais, que suplicam a luminosidade do grande sinal. Olhem para Maria, aquela que é toda revestida da Palavra de Deus, o “Grande Sinal” que realiza plenamente a vocação da Igreja (Cf. Ap 12, 1-6). Nela está o dever ser que a Igreja e o Mundo esperam das pessoas consagradas.
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