Por Dom Alberto Taveira Corrêa
BELéM DO PARá, 31 de Outubro de 2014 (Zenit.org) -
Confessamos a fé cristã, que nos
indica a perspectiva de uma vida que não tem fim, na eternidade, plena comunhão
com a Santíssima Trindade, a Virgem Maria, os anjos e os santos. Temos a
confiança de que experimentaremos a plenitude da felicidade, para a qual fomos
criados, pelo amor misericordioso de Deus. Com frequência, no contato com
pessoas que se aproximam do limiar de sua entrada na eternidade, tenho recebido
de Deus a graça de anunciar-lhes estes valores perenes, ajudando-as a superar o
receio, aliás, muito natural, diante do mistério da morte. Ao dar os
Sacramentos da Penitência e Unção dos Enfermos, ouvi fiéis surpreendidos pela
linguagem carregada de alegria e otimismo, com que a Igreja efetivamente
celebra o mistério do Cristo Morto e Ressuscitado, também em tais
circunstâncias críticas e ao mesmo tempo carregadas de sentido. É magnífico
vê-los, após os chamados sacramentos medicinais ou de cura, receberem Jesus
Eucaristia, algumas vezes como viático, alimento de vida eterna, para se
aproximarem do Senhor, em sua Páscoa pessoal!
É com este mesmo espírito de confiança que a Igreja celebra, no
início do mês de novembro, a Solenidade de todos os Santos, nossa vocação e
meta a ser alcançada, e a Comemoração de todos os Fiéis falecidos. Nossa visita
aos cemitérios, nos dias que se aproximam, pode ser uma bela oportunidade para
corajosa profissão de fé, quando estivermos diante nas sepulturas, nas quais
repousam apenas restos mortais dos nossos entes queridos, com a certeza de que
eles e elas já não se encontram ali, pois, apenas soada a trombeta do Anjo da
Morte, que os chamou, apresentaram-se diante do Senhor, para dar contas da
linda aventura da vida terrena, entendida como um caminho para a eternidade,
pois "está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o
julgamento" (Hb 9, 27).
A Igreja põe em nossa boca expressões altamente
comprometedoras: "Creio em Deus Pai, todo poderoso, Criador do céu e
da terra e em Jesus Cristo seu único filho, Nosso Senhor, que foi concebido
pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio
Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direita de Deus
Pai, todo poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no
Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos, na remissão
dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém".
Deus é Pai, pode tudo, é o Criador! O Universo não é obra do
acaso, mas pensado por Ele, desde a eternidade com inteligência e amor,
finalizado à plena realização de seus filhos e filhas. Seu poder não é
despótico ou autoritário, mas amoroso e harmônico, de modo que todas as
criaturas, voltando-se para Ele, encontram continuamente seu equilíbrio
interior e o justo relacionamento umas com as outras. Contemplar luz e
escuridão, sorriso ou choro, morte e vida, tudo encontra seu lugar quando se vê
do ângulo do último dia da criação, quando Ele mesmo se encantou com a obra
feita: tudo é muito bom! Acreditar em Deus Criador, saber que não estamos
jogados e perdidos! Quem começa com este risco da fé vislumbra o sentido da
existência!
O mundo não foi deixado ao léu, mas acompanhado e sustentado com
amor por quem o criou. Muitas vezes, na história que chamamos "da
salvação", Deus ofereceu aliança aos homens e mulheres. Sinalizou as
veredas da felicidade, enviou seus profetas, formou seu povo, como um pai que
educa seus filhos. Se tantas vezes não foram capazes de escutá-lo, seu amor
nunca esmoreceu. A plenitude dos tempos, com a maturidade da história humana
nesta terra, irrompeu como dom do amor de Deus, quando enviou seu Filho amado,
concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria. É tão bom e
bonito viver nesta terra, que Deus quis assumir uma carne como a nossa, desejou
percorrer os mesmos caminhos de dores e angústias, esperanças e alegrias, menos
o pecado. E Jesus, filho amado, foi até o mais profundo dos abismos da
existência humana. Tocou com suas mãos todas as etapas da vida humana, dos
primeiros vagidos de recém-nascido até o grito do abandono, no alto da Cruz,
para que nenhum clamor fique sem sentido. Nele e por Ele, tudo encontra seu
rumo de passagem para a vida que não tem fim. Em sua morte nós fomos
resgatados, para ressuscitar com Ele. A dor da morte, que nos assombra com ares
de absurdo, na fé pode ser superada e já está superada, Só que é necessário
arriscar-se no salto da fé para entender esta estupenda realidade! O Espírito
Santo de Deus venha em auxílio de nossa fraqueza para dizermos
"creio".
Percorridas estas etapas altamente realizadoras para a existência
humana na terra, podemos proclamar a corresponsabilidade chamada "Comunhão
dos Santos". Ninguém caminha sozinho e tudo o que fazemos pode contribuir
para o bem dos outros! A própria sombra da morte pode ser iluminada pelo amor
mútuo, experimentado na presença solidária dos irmãos e irmãs. Apoio, consolo,
oração, gestos, tudo o que muitos velórios e enterros cristãos já
testemunharam. É uma das Obras de Misericórdia.
E o Credo continua com "Remissão dos pecados". Como Deus
não nos fez para o pecado, e cristão que se preze não se acomoda com o pecado,
mas acredita que só em Cristo e na força de sua Morte e Ressurreição se
encontra o perdão, e sabe ser destinado à salvação. Vale insistir na verdade a
respeito do encontro definitivo com o Senhor, quando a morte chegar. É
honestidade anunciar a uma pessoa que viveu seriamente o cristianismo que a
"sua hora" chegou, e convidá-la a preparar-se bem. Medo, ousadia,
precipitação? Nada disso! Realismo e certeza, esperança da salvação. Uno-me a
muitas pessoas que assim me ensinaram. Desejo abraçar a hora de Deus, quando,
onde e como chegar, como fruto de seu amor misericordioso, que sabe quando
estaremos prontos.
Somos destinados à ressurreição. Cristo ressuscitou de verdade e
nos garante que com Ele ressuscitaremos. "Creio na Ressurreição da
carne". A morte, a inevitável irmã morte corporal, como a chamou São
Francisco de Assis, é passagem, não a última e definitiva palavra. Desejamos
uma morte santa e feliz, desejamos ter mãos limpas e puro o coração quando
chegar a hora. Não é em vão que pedimos, na Ave Maria, que Nossa Senhora, Mãe
de Deus e nossa, rogue por nós agora e na hora de nossa morte, os dois momentos
de que temos certeza, de hoje até à eternidade.
E com o Credo chegamos à "Vida eterna". Nela
acreditamos, como cristãos, para ela caminhamos, almejamos os seus valores e
sabemos que começa agora. De fato, como se expressou o Senhor na Oração
Sacerdotal, "esta é a vida eterna: que conheçam a ti, o Deus único e
verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que enviaste" (Jo 17, 3). Começa com
a fé, adesão a Jesus Cristo, como a qualidade de vida e santidade que Deus deseja
para todos e se prolongará para sempre.
Boa festa de todos os Santos para todos! Piedosa celebração de
Finados e uma excelente preparação para uma boa e santa morte, no dia marcado
pelo amor infinito de Deus por nós!
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